Título: Estrela reage e vai às compras após pedidos de falência
Autor: Vera Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 28/08/2005, Economia & Negócios, p. B10

Cataventos de ferro, com quase três metros, plantados no jardim da casa de número 501, da Avenida República do Líbano, em São Paulo, já mostram que este é um endereço mágico. O nome é apropriado: Casa dos Sonhos. É neste espaço, onde o visitante ao entrar no salão principal depara com um enorme urso de pelúcia e vários brinquedos, além de estantes de vidros com tudo aquilo que desde os anos 30 encantou gerações de brasileiros, que o empresário Carlos Tilkian comanda a Manufatura de Brinquedos Estrela. A empresa fundada em 1937 tem hoje três fábricas, é líder do mercado brasileiro e uma das maiores da América Latina. A Estrela, porém, perdeu, no início do ano, um pouco de seu brilho. E na Casa dos Sonhos, Tilkian viveu dias de pesadelo, com credores batendo à porta ou indo à Justiça para pedir a falência da empresa. Resultado: as ações perderam liquidez na Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) e as fontes de crédito secaram.

A Estrela, agora, está reagindo, voltando a irradiar brilho. A chegada na quinta-feira de um ônibus escolar, com crianças em algazarra, mostrava que a normalidade havia voltado. E Carlos Tilkian garante que não é apenas aparente. A empresa fez acordo no valor de R$ 3 milhões com os credores que pediram a sua falência e inicia o próximo ano disposta a recuperar terreno e a entrar em novos segmentos por meio de aquisições. Também promete agregar tecnologia aos brinquedos já a partir deste Dia das Crianças.

"Estamos na fase final de aquisição de uma empresa para entrarmos no segmento de brinquedos infláveis de plástico. Isso deve representar entre R$ 20 milhões e R$ 25 milhões no faturamento anual, hoje de R$ 80 milhões", diz o empresário que deve anunciar a compra nas próximas semanas. Esse mercado também reduzirá a excessiva dependência das vendas concentradas entre outubro e dezembro, do Dia das Crianças ao Natal, pois os produtos infláveis de plástico - bóias, barquinhos, jacarés e tudo aquilo que vai para a piscina e para a praia - permitirão à empresa vender mais ao longo do verão.

Tilkian também mostra empolgação com acordo fechado com a espanhola Jesmar, da qual a Estrela assumiu a representação e produção dos brinquedos como a linha de bonecas Barbara e Cocolin, que têm movimentos devido à tecnologia na injeção de plástico que torna as bonecas flexíveis. "O acordo com a Jesmar nos permite o acesso à sua tecnologia, que poderemos agregar aos produtos", diz.

Do faturamento da Estrela, 55% é resultado da venda de bonecas, em que a linha Susi, lançada em 1962, para enfrentar a rival americana Barbie, da Mattel, lançada em 1959, é o principal destaque. Apesar dos apelos por produtos tecnológicos, Tilkian diz que continuará a produzir bonecas, autoramas e jogos cartonados como o Banco Imobiliário, lançado em 1944. "A tendência é agregar tecnologia às marcas de brinquedos tradicionais, como a Susi., que pode ter um walkman sem deixar de ser uma boneca."

Tanto que a Estrela é a única empresa da América Latina a produzir cabelos e olhos de bonecas. Nas três fábricas, os funcionários estão dando duro para garantir que a Estrela brilhe no Dia das Crianças e no Natal. Em Itapira (SP), 600 funcionários trabalham nas máquinas injetoras que transformam plástico em bonecas (em tempos normais são 400). Já em Três Pontas (MG), outras 900 pessoas trabalham nos olhos, na pintura e no vestuário, além dos brinquedos cartonados, um acréscimo de 400 empregos temporários para dar conta da produção. Em Manaus, 200 funcionários desenvolvem o que a Estrela tem de tecnológico, como autoramas e equipamentos de videogame, para garantir um Natal mais gordo para a empresa, que fechou as portas da fábrica do Parque Novo Mundo, em São Paulo, em janeiro.

"Para competir com a China e o contrabando, é preciso ter competitividade. Por isso, fechamos a primeira fábrica da Estrela, mas não deixamos de produzir nenhum dos brinquedos que fazem a nossa história", diz Tilkian.