Título: Alta não modifica expectativas
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Economia & Negócios, p. B1

Com o preço do petróleo rondando o recorde de US$ 70 por barril, os economistas em Wall Street mantêm o sangue-frio e a avaliação de que a economia dos Estados Unidos segue com crescimento robusto. "Por enquanto, vejo o preço do petróleo como um risco de baixa para as minhas projeções e não como expectativa central do meu cenário econômico", disse ao Estado o economista-chefe para Estados Unidos do banco Credit Suisse First Boston (CSFB), Neal Soss. Segundo ele, apesar de surpreendente, a alta do preço do petróleo não teve impacto significativo sobre a atividade econômica nem sobre os gastos dos consumidores americanos. "O que vem acontecendo é que os consumidores americanos reduziram a sua ta xa de poupança ao alocar mais dinheiro do seu orçamento para fazer frente ao aumento nos custos de energia", disse Soss. Ele estima que a economia americana deverá crescer 3,75% no segundo semestre, desacelerando o ritmo para 3,5% em 2006.

Em relação à política monetária, Soss observou que a disparada recente nos preços do petróleo não deverá mudar a postura do Federal Reserve (Fed) pelo menos até ao fim do mandato de Alan Greenspan, que deixa o cargo em janeiro de 2006. Soss projeta uma taxa de Fed Funds em 4,25% ao ano no fim deste ano.

Na opinião do economista-chefe para Estados Unidos do banco BNP Paribas, Brian Fabbri, apesar de a economia dos Estados Unidos estar crescendo de forma robusta no momento, o crescimento do PIB poderia ter sido maior mesmo que o preço do petróleo estivesse ainda no nível do fim de 2003. "Por esse ponto de vista, a alta do preço do petróleo teve impacto sobre a atividade econômica", afirmou Fabbri. Ele acredita que os consumidores americanos também poderiam estar consumindo mais em outros bens e serviços da economia, e não com energia. Segundo Fabbri, a economia americana deverá crescer 3,7% neste ano e, ao redor de 3% em 2006.

Em relação à inflação americana, o economista acredita que a alta nos preços de energia fará com que o núcleo da inflação ao consumidor convirja para o nível do índice cheio, na medida em que aumentará o repasse da alta nos preços de energia para os outros preços. Atualmente, o índice de preços ao consumidor está por volta de 3,5% anualizado, enquanto o núcleo sobe 2,4% anualizado.

Já os analistas da área de pesquisa global do banco Goldman Sachs, Mike Buchanan e Binit Patel, calculam que cada 10% de aumento no petróleo representa retração de 0,15% no PIB dos países do G7 (grupo de países mais desenvolvidos) no primeiro ano e 0,30% em dois anos. "Qualquer aumento no preço do petróleo reduz renda real para consumo em outros itens. Mas as coisas podem não ser lineares."

Buchanan e Patel elevaram recentemente a projeção para os preços médios do petróleo para o segundo semestre de US$ 53,50 para US$ 67 por barril. Para 2006, a nova projeção é de US$ 68 por barril (ante US$ 55 da projeção anterior).