Título: 'Varig pode parar se a venda da VarigLog não for aprovada'
Autor: Nicola Pamplona, Mariana Barbosa e Alberto Komatsu
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Economia & Negócios, p. B14

O presidente do conselho de administração da Varig, David Zylbersztajn, afirmou ontem que a Varig não tem plano B e admitiu a possível paralisação da companhia caso o plano de reestruturação, que inclui a venda da subsidiária de cargas VarigLog para o fundo americano Matlin Patterson, não seja aprovado. "Tem gente brincando com fogo", afirmou o executivo ao comentar a liminar concedida ontem pela Justiça do Trabalho aos sindicatos trabalhistas e que impede a venda das subsidiárias VarigLog e Varig Engenharia e Manutenção (VEM). A Varig já recorreu. A venda da VarigLog, que precisa ainda ser aprovada pela Fundação Ruben Berta, acionista da Varig, e pelo juiz Alexander Macedo, responsável pela recuperação judicial da empresa, representaria uma injeção imediata de US$ 38 milhões, além de um empréstimo de US$ 50 milhões garantido por recebíveis.

A Varig depende desses recursos para conseguir a manutenção de uma outra liminar que impede as empresas de leasing estrangeiras de arrestar aviões em solo americano. O julgamento da liminar acontece amanhã, na Corte de Falências do Distrito Sul de Nova York.

Segundo advogados especializados em leasing ouvidos pela reportagem, o risco de essa liminar cair amanhã é bastante alto, uma vez que a Varig não está pagando os aluguéis correntes das aeronaves. Apenas se conseguir convencer a Justiça americana de que terá condição de pagar os aluguéis atrasados em poucos dias, a Varig poderá obter alguma extensão de prazo.

A venda da VarigLog seria suficiente apenas para colocar em dia a dívida contraída com as empresas de leasing após a entrada em recuperação judicial, em 17 de junho, no valor de US$ 30 milhões. Está longe de garantir a sobrevivência da empresa, que tem uma despesa mensal de US$ 200 milhões. Movem a ação contra a Varig em NY as empresas ILFC, Boeing Capital, Ansett, entre outras. No total, estão em jogo nada menos do que 30 aviões.

Ao conceder a liminar impedindo a venda da VarigLog, a juíza Giselle Bondim Lopes Ribeiro, da 19ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, afirma que baseou sua decisão em suspeitas de fraude. "Defiro a medida cautelar de arresto em relação à VarigLog e VEM, para que suas ações não sejam vendidas, assim como bens móveis e imóveis que possuam, inclusive marcas", diz o despacho. Na semana passada, a Federação Nacional dos Trabalhadores em Aviação Civil (Fentac) entrou com uma ação pedindo o arresto dos bens de todas as empresas da Varig, para garantir o pagamento de R$ 400 milhões de passivos trabalhistas.

Segundo Zylbersztajn, caso a venda da VarigLog não seja concretizada, o plano de recuperação, a ser apresentado aos credores até o dia 12, ficará comprometido. "Esse tipo de coisa começa a estancar a capacidade da companhia de buscar recursos e vai ter conseqüências. Mas isso faz parte da história da Varig, onde sempre que houve um processo de soluções à vista, houve reações internas que rejeitaram as soluções."

Na última sexta-feira, a Fentac e seis sindicatos do setor aéreo, além do administrador judicial da Varig, João Vianna, pediram a destituição do conselho e da diretoria executiva da Varig por causa de indícios de fraude na recuperação judicial.

Segundo os sindicalistas, a Varig teria colocado 8 mil trabalhadores da VarigLog e VEM na lista de 22 mil credores da empresa para deixar as subsidiárias sem passivos e torná-las atrativas a investidores. A Varig diz que a inclusão desses trabalhadores foi um erro não proposital que estaria sendo corrigido e ameaçou processar os sindicatos.