Título: Programa do BNDES beneficia as pequenas
Autor: Vânia Cristino
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Economia & Negócios, p. B16

O sonho de micro, pequenos e médios empresários de formar capital de giro e levar seus produtos a mercados no exterior começa a se tornar realidade para alguns empreendedores. Iniciada em setembro de 2004, a chamada linha de Empresas Âncoras, do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), propõe um financiamento mais barato de exportação para grandes empresas, exigindo em troca contratos de fornecimento de insumos com micro, pequenos ou médios fornecedores. Chamadas de âncoras, as grandes empresas se comprometem a repassar os recursos para esses fornecedores, comprando à vista insumos para a produção de bens a serem exportados. Com isso, as pequenas empresas melhoram o capital de giro e cumprem prazos de produção, além de atingirem mercados externos. Para o diretor de Comércio Exterior do banco, Armando Mariante, a linha "vai financiar indiretamente os pequenos produtores que, sozinhos, não conseguiriam acessar o mercado externo".

As condições do financiamento são desenhadas caso a caso, diz o superintendente de Comércio Exterior do BNDES, Luiz Antônio Dantas. Até agora, nove empresas buscaram essa linha, das quais duas já contrataram financiamentos e quatro estão com créditos aprovados. Essas seis operações beneficiarão 360 empresas menores. Entre as que estão com financiamentos aprovados estão a pernambucana Empresa de Armazenamento Frigorífico (Empaf), do grupo de pescados Netuno, e a indústria têxtil catarinense Karsten.

A produção da Karsten lhe rendeu em 2004 receita bruta de R$ 357,5 milhões, sendo R$ 181,5 milhões resultado das exportações. Segundo a diretora-financeira da empresa, Rejane Jansen, "o crédito de US$ 1,6 milhão do BNDES auxiliará no fluxo de caixa dos fornecedores e na capacidade de eles produzirem os insumos dentro dos padrões e prazos previstos".

Com uma produção de 2,5 mil toneladas de pescado ao mês, a Empaf teve aprovado financiamento de US$ 7,8 milhões para exportar cerca de 75% desse volume. Segundo o diretor-financeiro da Netuno, Sérgio Colaferri, a empresa optou por esta linha por causa das taxas menores. Com receita de R$ 230 milhões em 2004, ela espera começar a aplicar os recursos ainda este mês, em encomendas a pequenos fornecedores. Ao todo, são 1,2 mil barcos em 13 unidades pesqueiras entre a Bahia e o Pará.

Um desses fornecedores é Antônio José Filho. Ele produz, em média, 250 quilos de lagosta por quinzena, ao preço total de R$ 18,75 mil. Sua frota tem 20 barcos pesqueiros, além de outros 70 que contrata para complementar a produção. "Meu crescimento vem da Empaf", diz. "Com o pagamento à vista, poderei financiar outros pescadores que vendem o pescado para mim."

Mas essas pequenas empresas são exceções no Brasil. Segundo o assessor da diretoria de produtos e atendimento do Sebrae, Júlio Reche, o mercado de fornecimento de insumos é muito fechado para empresas de menor porte. "A maior parte de contratos fechados nesta relação fica a cargo dos governos estaduais, como é o caso do Rio de Janeiro na construção das plataformas de petróleo", explicou.