Título: Renúncia de ex-ministro tem gosto de derrota
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A4

Vencido por José Dirceu, que não retirou seu nome da chapa do Campo Majoritário, o presidente interino do PT, Tarso Genro, não vai disputar a renovação do mandato por eleição no dia 18 de setembro. A decisão de desistir da candidatura foi anunciada ontem, em Porto Alegre, numa entrevista em que Tarso evitou falar diretamente de seu descontentamento, mas não deixou de demonstrá-lo nas entrelinhas. Tarso considerou a opção de Dirceu e da chapa do Campo Majoritário como legítima, mas não coincidente com a ruptura que pregava para um novo pacto dirigente que renovasse as relações internas do partido, com respeito às minorias, e com líderes capazes de convencer pela persuasão e não somente por maioria quantitativa. "Essas condições não são implementadas com a manutenção da chapa como estava", justificou.

Sempre ressalvando que não fazia juízo moral de companheiros - leia-se Dirceu e seus aliados -, Tarso deu a entender que a crise do governo e do PT exige mais do que a formalidade dos processos em andamento nas CPIs e Comissão de Ética da Câmara. "A situação que gera esse processo não pode ser superada se não tivermos responsabilidades políticas também", afirmou. Chegou até a comparar as reações físicas e químicas do processo natural, sobre as quais o homem não tem controle, com a política, em que os atos têm sujeitos.

Ao falar de seus planos futuros, fez um discurso que pode ser interpretado como mais uma crítica aos adversários que arranjou na presidência do partido. "Estamos tratando do destino coletivo do País e do partido e não do nosso futuro pessoal. Seria muito pequeno nesse momento se nós estivéssemos usando determinados mecanismos do partido para nos proteger pessoalmente."

No único momento em que falou diretamente de Dirceu, Tarso disse que a declaração do deputado, de que preferia morrer a deixar a chapa do Campo Majoritário, sinaliza "o tipo de relação que ele tinha com o sistema de poder (do governo) e ainda mantém com o sistema de poder do partido". E emendou: "São reações emocionais que sinalizam uma posição política". Destacou, no entanto, que o conflito com Dirceu é expressivo, mas limitado a posições políticas. "Não chegamos a isso e nem pretendemos chegar."

Tarso anunciou que fica na presidência do partido até entregar o cargo ao sucessor. Depois pretende mobilizar centenas de lideranças para discutir o futuro do PT. "Não espero e não devo esperar", reiterou ao ser perguntado sobre uma possível volta ao governo federal. Tarso também está convicto de que não vai voltar a advogar, mas admite, no futuro, trabalhar como consultor jurídico. "Tenho uma aposentadoria de R$ 650 do INSS e com isso dá para ir levando", revelou.

O deputado estadual Raul Pont (RS) enviou nota de solidariedade a Tarso. "Infelizmente, a renúncia de Tarso demonstra que pessoas como Zé Dirceu e Delúbio não só não foram afastadas do PT como continuam controlando o Campo Majoritário. Essa situação é extremamente prejudicial ao PT, no momento em que a sociedade espera do nosso partido uma resposta rápida e exemplar frente às denúncias", diz ele em um trecho do texto.

"Quem está envolvido em denúncias graves como estas não pode ter o direito de ser votado nem o de votar nas instâncias partidárias enquanto o processo de investigação não for concluído", ressalta Pont.