Título: Berzoini substitui Tarso, preserva Dirceu e critica política econômica
Autor: Guilherme Evelin
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A4

Novo nome do Campo Majoritário para a presidência do PT, em substituição a Tarso Genro, que renunciou ontem à candidatura, o deputado Ricardo Berzoini (SP) começou a sua campanha com um discurso de renovação do partido em tom bem mais baixo e moderado do que o antecessor. Em entrevista na sede nacional do PT, Berzoini disse que não vai exigir o afastamento do deputado José Dirceu (SP) da chapa que disputará o Diretório Nacional, embora considere isso "desejável", e descartou a hipótese de "ruptura" com a linha política seguida até agora pela legenda. Em vez de "refundação do PT", como pregava Tarso, Berzoini limitou-se a propor mudanças de "práticas e procedimentos" errados, que ele concentrou na figura do ex-tesoureiro do partido Delúbio Soares. "Não pode haver ruptura com um projeto coletivo de massas que foi fundamental para a democracia brasileira", disse. "Pode haver ruptura com o comportamento que tiveram o ex-tesoureiro e outros dirigentes."

Sobre a permanência de Dirceu na chapa, motivo da renúncia de Tarso, Berzoini tentou reduzir a importância do episódio. "A presença do deputado não é desejável, mas não é uma questão central. Não coloco como condição para ser candidato porque a construção da chapa é projeto político coletivo."

A decisão sobre a continuação de Dirceu como candidato ao Diretório será tomada por voto secreto nesta sexta-feira, em reunião dos 105 integrantes da chapa do Campo Majoritário, grupo dominante no partido.

Na reunião, será avaliada também a situação de outros integrantes do grupo envolvidos em acusações de participação no esquema financeiro paralelo montado por Delúbio e pelo empresário mineiro Marcos Valério Fernandes de Souza.

Berzoini engavetou outro ponto do discurso de Tarso, que defendia a própria dissolução do Campo Majoritário e a formação de uma nova maioria no partido. "Não dá para confundir o Campo Majoritário com algumas pessoas que erraram. O projeto político do PT tem a ver com o conjunto de pessoas que compõem o Campo Majoritário e esse projeto merece ser fortalecido", argumentou.

ALIANÇAS

Ao defender as alianças com PTB, PL e PP, o atual secretário-geral do PT disse que pode ter havido erros, mas de "gerenciamento" e "operação". Citou como falhas a imposição de reprodução das alianças nacionais nos municípios, nas eleições de 2004, e o uso do apoio financeiro como moeda de troca.

O novo candidato não quis tomar posição sobre a candidatura à reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Sugeriu que o assunto seja discutido pelo partido no começo de 2006, mas, ao contrário de Tarso, disse que há motivos para o eleitor votar de novo no PT.

Citou como motivos de orgulho para os petistas a retomada do crescimento do emprego e a duplicação dos investimentos em agricultura familiar ocorridos no governo Lula.

Berzoini fez algumas críticas à política econômica. Cobrou maior preocupação com o crescimento econômico e a aceleração da execução do Orçamento, que, no seu ponto de vista, não precisa ser "tão cautelosa". Mas, nesse campo, a crítica é mais moderada que a de Tarso. Segundo ele, as suas divergências com o governo não são de fundo, mas de "foco".

"Concordo integralmente com os fundamentos da política econômica. O Brasil precisa ter superávit primário e tomar cuidado com a inflação, porque há uma cultura inflacionária forte", disse. "Mas nós podemos e devemos crescer mais. Nossa meta de inflação é muito justa e exigiu uma política monetária muita dura do Banco Central", acrescentou Berzoini, ressalvando que essas divergências devem ser discutidas "amigavelmente" entre partido e governo.