Título: Candidato é adversário de Palocci
Autor: Vera Rosa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A5

O deputado Ricardo Berzoini (SP), novo candidato do Campo Majoritário à presidência do PT, sempre foi um crítico da política econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Antonio Palocci. Antes mesmo de ser indicado para substituir Tarso Genro na chapa, Berzoini disse ao Estado que o PT não aceitará que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva se apresente para um segundo mandato, em 2006, com a reedição da Carta ao Povo Brasileiro, lançada há três anos. "Será difícil emplacar entusiasmo em 2006 com essa política econômica", afirmou o deputado."Não estamos propondo mudar o modelo, mas não dá para aceitar esses juros altos e ter uma execução orçamentária tão cautelosa. Precisamos combinar essa política com crescimento econômico e é claro que tudo isso estará em xeque no ano que vem", insistiu Berzoini.

Na Carta da campanha eleitoral de 2002, produzida sob encomenda para acalmar o mercado, o PT avisava que Lula manteria o superávit primário - economia de gastos para pagamento dos juros da dívida - o quanto fosse necessário para equilibrar as contas. Quando aceitou substituir Tarso Genro na chapa do Campo Majoritário, na quinta-feira à noite, Berzoini foi logo avisando que não seria uma rainha da Inglaterra. "Vou falar as coisas que eu penso. Sempre fui assim no governo e não tenho por que deixar de ser agora", comentou.

Sua maior preocupação, atualmente, é demonstrar que não é teleguiado pelo ex-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (PT-SP). No dia 9 de julho, quando José Genoino foi obrigado a renunciar à presidência do PT - diante do agravamento da crise que atingiu o partido e o governo -, Dirceu realmente defendeu Berzoini para o seu lugar. Tarso, porém, acabou passando à frente porque contou com o apoio de Lula.

De uns tempos para cá, Berzoini elevou o tom em relação a Dirceu, que não gostou nada da atitude. Sua justificativa: os militantes falaram mais alto. "Cresce no PT o sentimento de que José Dirceu deve sair da chapa, mas não vamos fazer nenhum prejulgamento", observou o deputado, que hoje é secretário-geral do partido.

Nos bastidores, o Campo Majoritário - grupo que controla 60% do Diretório Nacional - tenta construir uma "saída negociada" para que Dirceu e outros deputados citados nas investigações da CPI dos Correios, como o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (SP), deixem a chapa. O líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), é um dos que costuram o acordo, rejeitado pelo ex-chefe da Casa Civil.

"Eu não vou sair da chapa", afirmou Dirceu, que presidiu o PT de 1995 a 2002. "Como posso defender o meu mandato se o PT fizer isso comigo?", completou, numa referência ao processo de cassação que enfrenta na Câmara. Acusado de ser o comandante do suposto esquema do mensalão, Dirceu insiste que a acusação contra ele é fruto de "perseguição política".

Diplomático, o ex-chefe da Casa Civil também disse ontem que a troca de Tarso por Berzoini "amplia" as possibilidades de vitória do Campo Majoritário na eleição marcada para 18 de setembro.

O governo, no entanto, está muito preocupado com a crise no PT - tanto que o assunto foi tratado ontem, durante reunião de Lula com a coordenação política, pela manhã. Na prática, a eleição direta para renovação da direção do PT, com voto dos filiados, é uma prévia de como será a queda-de-braço dentro do partido para conduzir a eventual candidatura de Lula, em 2006.

"Esperamos que o gesto do Tarso contribua para a eleição de um presidente que ajude a unir o PT", resumiu o ministro-chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Jaques Wagner. Ele chegou a defender o adiamento da eleição petista, mas até agora a idéia não prosperou. "Adiamento em cima do laço seria golpismo", respondeu Berzoini. "Não dá para fazer isso."