Título: Assessor de Palocci depõe hoje sobre máfia do lixo
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A6

O chefe de gabinete do ministro Antonio Palocci, Juscelino Dourado, depõe hoje na CPI dos Bingos sobre uma série de indícios de seu suposto envolvimento com a chamada máfia do lixo. O relator da comissão, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), destaca que Juscelino é citado várias vezes nas conversas do advogado Rogério Buratti com pessoas ligadas ao esquema. Na gravação dos diálogos, como identificou o Ministério Público, ele é tratado por "chefe de gabinete", "J" e também pelo primeiro nome.

Buratti valeu-se da alegação de que foi padrinho de seu casamento para explicar o fato de tê-lo visitado no Ministério da Fazenda. Em nota à imprensa, Juscelino Dourado disse que, em dois anos e meio, recebeu o amigo nove vezes no gabinete.

Ele deu a informação após a aprovação de requerimento do senador Romeu Tuma (PFL-SP) pedindo a lista de pessoas que tiveram acesso ao ministério pelo elevador privativo. Garibaldi acredita que, no depoimento, o chefe de gabinete vai tentar proteger o ministro Palocci. "A não ser que haja uma coisa inesperada", alegou. Para o relator, previsões como esta mostram a necessidade de a CPI dispor de dados sigilosos dos depoentes antes de ouvi-lo. O sigilo de Juscelino Dourado deve ser quebrado hoje.

GIANELLI

A CPI também espera ouvir hoje o advogado do escritório da Fischer&Foster Enrico Gianelli, que atendia a multinacional Gtech quando da renovação do contrato das loterias da Caixa Econômica Federal. Gianelli está sendo convocado pela quarta vez.

Em uma das vezes, o advogado obteve liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal Marco Aurélio Mello, desobrigando-o de atender à comissão. Nas outras ocasiões, Gianelli só avisou que não compareceria em cima da hora, alegando compromisso inadiável na agenda e problemas no vôo.

Ele está em Brasília desde ontem. Se atender à convocação, deve pedir para falar a portas fechadas, como uma forma de preservar sua imagem. Caso o seu compromisso de contar o que sabe não convencer, os senadores devem rejeitar a solicitação.

Se Enrico Gianelli faltar mais uma vez, o presidente da CPI dos Bingos, o senador Efraim Morais (PFL-PB), afirmou que será obrigado a "cumprir com a lei". Isso quer dizer que o advogado será conduzido à CPI por agentes da Polícia Federal. "Por precaução, pedi que ele próprio assinasse a convocação", informou o senador.

Dirigentes da Gtech acusam Gianelli de intermediar suposto pedido de extorsão feito por Rogério Buratti na renovação do contrato.

Ele é ainda citado como um dos patrocinadores do esquema para esconder o dinheiro da extorsão. Segundo Buratti, os R$ 5 milhões - pagos a outros e não a ele - teriam sido depositados na escritório de advocacia MM Consultoria, de Belo Horizonte.

No período de renovação do contrato, a empresa recebeu R$ 5,3 milhões da Gtech, supostamente como pagamento de um único agravo impetrado no Superior Tribunal de Justiça (STJ) em favor da multinacional.