Título: 'CPI não acaba em pizza', diz Delcídio
Autor: Roldão Arruda
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A9

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), reagiu enfaticamente aos comentários de que os trabalhos da comissão podem acabar em pizza. Na opinião dele, integrantes da CPI que fazem afirmações desse tipo estão em busca de holofotes. "A despeito de pessoas que querem fazer farol, desqualificando a CPI, ela não acabará em pizza", disse. "Se depender de mim, como diz o inglês, no way. É impossível acontecer isso." O senador disse que, em vez de desconfiar do resultado da CPI, seria melhor se os parlamentares fossem mais aplicados no trabalho investigativo. Para ele, a comissão deveria dedicar-se mais à análise de documentos já disponíveis, em vez de insistir nos depoimentos com transmissão pela TV.

"Não adianta fazer espetáculo", disse. "Temos de ter consistência e densidade. E isso, desculpem os parlamentares que me criticam, você consegue estudando, fazendo lições de casa e não apenas ouvindo depoimentos de pessoas que aparecem muito bem orientadas por excelentes advogados e nada falam."

O presidente da CPI almoçou ontem com cerca de 30 integrantes do conselho da Bolsa de Valores de São Paulo, na sede da instituição na Rua 15 de Novembro, no centro antigo da cidade. Indagado sobre as afirmações do presidente do Conselho de Ética, deputado Ricardo Izar (PTB-SP), segundo o qual o esquema do mensalão nunca teria existido, o senador respondeu: "Não posso afirmar isso. Só vou fazer afirmações depois de cruzar todos os dados com as informações que faltam."

A resposta, na opinião de Delcídio, também está condicionada à forma como cada um vê o esquema do chamado de mensalão: "Se é uma coisa periódica, regular, como está na cabeça de cada um, ou se é episódica."

A conclusão só será possível após o cruzamento das informações sobre migrações partidárias e grandes votações no Congresso com a movimentação financeira. "Podemos chegar à conclusão de que o esquema do mensalão é mais amplo."

O senador afirmou que a CPI só alcançará seus objetivos se também definir a origem dos recursos usados no esquema de corrupção. "A essência do trabalho está na origem do dinheiro. Se não descobrirmos isso, a CPI ficará parecida com as outras, em que investigaram quem recebeu na ponta, mas não levantaram os agentes que garantiram aquilo tudo."

O almoço na Bovespa foi um dos compromissos do senador em São Paulo. Sem revelar nomes, ele disse que também teve encontros com a preocupação de se preparar para próximos depoimentos na CPI. "Temos de tomar cuidado. As coisas estão vindo à tona com uma rapidez quase incontrolável."

Indagado se era uma referência ao depoimento do doleiro Antonio de Oliveira Claramunt, Toninho da Barcelona, preferiu não responder. Delcídio foi abordado no saguão da Bovespa por um cidadão que lhe sugeriu analisar melhor os bens dos acusados. Respondeu que isso está sendo feito, com o apoio da Receita Federal.