Título: Para punir, 'confissão é mais que prova', diz FHC
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Nacional, p. A11

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu ontem punição rápida para os envolvidos nos escândalos de corrupção que flagelam Brasília e ironizou aqueles que pedem "provas" antes das punições. "Meu Deus, quando uma pessoa chega lá e confessa... A confissão é mais que prova. Querem o quê, que a pessoa deixe por escrito (a irregularidade que cometeu)?", indagou, alegando que torce para que Lula vá até o fim do seu mandato, em 2006. Sorridente, FHC rebateu as críticas que tem recebido quando emite suas opiniões sobre o País e estranhou, usando de certa ironia, que o PT aja como se tivesse medo dele. "Toda hora que falo eles ficam dizendo que não tenho autoridade. Todo cidadão brasileiro tem a obrigação de falar o que pensa", expressou. E ironizou os contra-ataques que recebe: "O PT tem mais medo de mim do que de todo mundo", objetou. A frase era uma resposta ao deputado petista Arlindo Chinaglia, que disse não ver nele autoridade para fazer as críticas como as da entrevista publicada pelo Estado no domingo.

Ao participar de um seminário sobre globalização e democracia, na sede da Federação das Indústrias de São Paulo (Fiesp), o ex-presidente repetiu que não é candidato a nenhum cargo. Disse que, ao emitir opiniões sobre o cenário político, não pensa nele, mas no Brasil. "Parece eles ficam tremendo. Eu não sou agressivo. Eu só faço uma análise, muito mais do que uma crítica", comentou.

Ele não quis falar sobre as questões internas do PT, mas opinou que o partido "fez um estrago nele mesmo que teve conseqüências no governo". Observou que o PT tem de fazer um esforço "para salvar a própria história e explicou que em nenhum momento quis criar embaraços para o governo: "Eu sou um otimista pelo Brasil e muito constrangidamente devo dizer que, sem nunca ter tido ilusões com o PT, me sinto desiludido".

TUCANOS EM MG

FHC rebateu com energia uma pergunta sobre semelhanças entre o processo de corrupção atual e o que aconteceu em Minas Gerais, com o PSDB, na campanha de 1998. "Não venham com essa conversa de que tudo é igual, porque não é verdade. O que acontece agora é uma coisa organizada, para utilizar os recursos, seja em campanhas, seja para corrupção pessoal. Eu não aprovo, mas o que aconteceu em Minas não envolveu o PSDB, é muito diferente. Foi um dinheiro tomado para a campanha. Não vão confundir. Isso atrapalha a opinião pública".

Para Fernando Henrique, o que aconteceu não se deve a falhas da legislação partidária ou eleitoral. "Não cabe dizer que tudo é por causa da legislação. Roubo não tem nada a ver com legislação", rechaçou. Mas é favorável a que se estude a mudança da legislação partidária depois de apurados os escândalos.