Título: Na imensa teia petrolífera, o medo do grande desastre
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Internacional, p. A12

Conhecida pelo seu charme, sua comida e sua música, New Orleans é também a capital econômica de uma região de terminais portuários e oleodutos por onde passa um quarto do combustível consumido nos EUA. Por isso, a aproximação do furacão Katrina suscitou cenários de desastre que só se costuma ver no cinema. Temeu-se um desastre ecológico que poderia transformar o lugar em área contamida e forçar parte da população a abandonar a cidade por um período de meses, talvez de anos. Ainda que machuque o bolso dos americanos, o menor dos males foi o aumento dos preços dos combustíveis, ontem. Até o início da noite, os funcionários das companhias petrolíferas, das prefeituras de várias cidades e dos Estados de Louisiana e Mississipi continuavam a avaliar o estrago que o vendaval pode ter feito na infra-estrutura de transporte e armazanemento de derivados de petróleo em busca dos sinais do que mais temiam: a ruptura de tanques e dutos e a cotaminação da águas que cercam New Orleans por três lados.

Como New Orleans e várias cidades da região estão abaixo do nível do mar - New Orleans, abaixo ainda do nível do Rio Mississipi, que a margeia -, os depósitos de combustíveis foram instalados na superfície em vez de serem enterrados. A razão é a mesma que leva os habitantes de New Orleans a emparedar seus mortos em túmulos construídos em cima da terra em lugar de enterrá-los: a água empurraria os caixões para cima.

Até o início da noite de ontem não havia informações de rompimento catastrófico nem na infra-estrutura de armazenamento e transporte de combustíveis nem no sistema de diques de mais de 5 metros de altura que separa New Orleans das águas que a rodeiam. Mas a avaliação dos danos havia apenas começado.