Título: Katrina deixa rastro de destruição
Autor: Paulo Sotero
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Internacional, p. A12

Um pequeno movimento para leste e uma ligeira perda de intensidade do furacão Katrina, pouco antes de tocar terra, na manhã de ontem, poupou New Orleans de um catastrófico impacto direto de um dos maiores vendavais que já atingiram os EUA. Apesar disso, há temores de que muitas pessoas tenham morrido em bairros que ficaram inundados depois da passagem do furacão. O prefeito de New Orleans, Ray Nagin, disse à rede de televisão local WWLTV que corpos podiam ser vistos flutuando nas águas. Duas pessoas morreram em acidentes de carro no Alabama e três em conseqüência da queda de árvores no Mississippi. Os extensos danos causados pelas chuvas torrenciais e ventos de quase 200 quilômetros por hora - assim como a devastação em comunidades da costa e cidades a centenas de quilômetros do litoral, no Estado do Mississippi - começaram a ser medidos ontem à tarde, num trabalho que deverá levar semanas. As companhias de seguro já se preparavam para lidar com as conseqüências do mais custoso furacão da história. Segundo Thomas Larsen, vice-presidente da Eqecat Inc. - empresa da Califórnia especializada em projetar custos de desastres naturais para a indústria de seguros -, as indenizações nas áreas afetadas pela tormenta deverão atingir US$ 25 bilhões, acima dos US$ 20,9 bilhões - descontada a inflação - pagos pelas companhias depois do furacão Andrew, em 1992, o mais recente dos três únicos furacões de categoria 5 que tocaram os EUA desde que o serviço meteorológico passou a colecionar as estatísticas, em 1851.

Katrina deverá entrar para o registro oficial como um furacão categoria 4, porque seus ventos haviam diminuído um pouco abaixo do limite de 248 quilômetros por hora.

Os moradores da margem do Lago Pontchartrain, ao norte de New Orleans, que tiveram a má idéia de não seguir a ordem de retirada dada pelas autoridades, certamente não notaram essa diferença. Dois sistemas de diques de mais de cinco metros de altura que separavam suas casas das águas falharam e forçaram vários deles a buscar refúgio em telhados. As primeiras informações indicavam danos extensos em Gulfport, Biloxi e outras cidades da costa do Mississippi, que foram atingidas em cheio. O furacão foi perdendo intensidade à medida em que atingia a terra. Hoje, o Katrina deve ser reclassificado como tempestade tropical.

Um alívio para o supervisor dos serviços de emergência de New Orleans, Walter Maestri, cujos piores cenários projetavam até 40 mil mortes num furacão catastrófico. Entre as 9 mil pessoas, a maioria de baixa renda, que buscaram refúgio no ginásio de esportes Superdome, a perspectiva era passar mais uma noite numa estrutura que teve partes do teto arrancadas pelo ventos. Para os mais de 1 milhão de pessoas que deixaram a cidade, há pela frente dias de espera antes do retorno a uma New Orleans que ontem à tarde não tinha nenhum serviço essencial funcionando.

Os milhares de vidros arrebentados nas fachadas dos prédios de hotéis modernos davam uma visão do transtorno que o Katrina deixou para uma cidade que vive em parte do turismo. O presidente George W. Bush, declarou parte de Louisiana e Mississippi zonas de desastre, permitindo assim transferência imediata de fundos federais para os dois Estados.