Título: Mulheres fumam quase tanto quanto os homens no Brasil
Autor: Adriana Dias Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 30/08/2005, Vida&, p. A16

O número de mulheres fumantes no Brasil está chegando cada vez mais próximo ao de homens - 43,2% dos fumantes são do sexo feminino e 56,8% do sexo masculino. A conclusão é da Sociedade Brasileira de Cardiologia (SBC) e do Instituto Vox Populi, que entrevistaram 2.500 pessoas de 74 cidades do País para saber quantos fumam e quantos são ex-fumantes. Os dados, divulgados ontem, Dia Nacional de Combate ao Fumo, fazem parte do Projeto Corações do Brasil da SBC, que traça a incidência dos fatores de risco para o coração. Não significa, porém, que o número de fumantes tenha crescido. "Há dez anos, tínhamos 10% a mais de homens fumando e 10% a menos de mulheres", conta Raimundo Marques de Nascimento Neto, diretor da SBC. "Falta pouco para as mulheres ultrapassarem os homens."

Os motivos da inversão ainda serão analisados e devem ser divulgados até o fim do ano, com outros fatores de risco para o coração. Por enquanto, a principal hipótese é comportamental, como a participação da mulher no mercado de trabalho. "O cigarro, infelizmente, é usado como muleta no combate ao stress", diz Silvia Cury, coordenadora das campanhas antitabagistas da SBC.

Ao mesmo tempo, as mulheres demoram mais para sofrer de doenças cardiovasculares (como enfarte e derrame) do que os homens. "As chances de a mulher fumante ter complicações cardiovasculares antes da menopausa são muito menores por conta da ação dos hormônios femininos", explica Carlos Serrano, cardiologista do Instituto do Coração do Hospital das Clínicas.

Quando é produzido naturalmente pelo organismo, o estrógeno, hormônio feminino, funciona como uma espécie de escudo para a mulher, agindo diretamente nas paredes das artérias. "Ele faz com que as artérias fiquem mais relaxadas", diz Serrano. "Na menopausa, quando os ovários deixam de produzir o hormônio, os perigos de problemas cardíacos aumentam e, conseqüentemente, as mulheres passam a se preocupar com o cigarro."

Outro fator que pesa desfavoravelmente para o sexo feminino em relação a doenças do coração é que o calibre das artérias coronárias da mulher é cerca de 20% menor e, assim, o tempo para sofrerem obstrução é menor também. O cigarro tem ação oposta à do estrógeno, endurecendo as artérias. "O endurecimento impede que o colesterol, por exemplo, vá para a corrente sanguínea", diz Serrano. "Progressivamente, ele acaba se acumulando nas paredes das artérias."

Não só as mulheres se preocupam com os danos do cigarro quando estão mais velhas. A pesquisa da SBC também concluiu que a maioria dos que pararam de fumar - tanto homens como mulheres - têm mais de 54 anos (31,6%). Quanto menor a faixa etária, menor é o número de ex-fumantes - dos 18 aos 24 anos, o índice é de 12,2%, por exemplo.