Título: 'Não morri porque Deus ainda tem planos para mim'
Autor: Roberto Lameirinhas
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Internacional, p. A18

Sobrevivente do acidente de terça-feira com o avião da companhia Tans, do Peru, o brasileiro Wagner Roberto Andolfato Souza, disse ontem ao Estado que seu maior desejo agora é voltar rapidamente para o Brasil. "Agradeço a Deus por estar vivo e acho que sobrevivi por um milagre. Acho que Ele tem planos para mim", declarou, por telefone, enquanto ainda se recupera no Hospital Arcebispo Loayza, em Lima. "Espero embarcar sábado. Os médicos vão fazer um implante com pele de porco para proteger as queimaduras. Isso vai permitir que eu volte logo para o Brasil evitando o risco de infecções." Souza, de 25 anos, mora em Curitiba. É divorciado e tem um filho de 3 anos. Estava no Peru a passeio, mas aproveitaria a viagem para fazer alguns contatos para a sua empresa, especializada em automação industrial.

Sobre o acidente, ele diz não ter tomado consciência de que o avião cairia até segundos antes da queda. "Tínhamos afivelado os cintos para o pouso e tudo parecia normal, exceto pela forte tempestade de granizo. As pedras batiam na fuselagem do avião e faziam muito barulho. Até que notei que estávamos muito próximos das árvores no solo. Em poucos segundos, o avião deslizava pela floresta, abrindo uma imensa clareira e se despedaçando", conta. "Até o contato com o solo, não havia nenhum sinal de emergência. Quando vi que tínhamos caído, tentei escapar por uma saída de emergência que havia sido aberta. Mas naquele momento ouvi uma forte explosão e uma grande bola de fogo vindo em minha direção."

"Tentei proteger o rosto com as mãos, e por isso tive os braços queimados. Em meio à fumaça negra e tóxica causada pela explosão, tentei novamente sair do avião e, com duas italianas, caminhei na direção de uma rodovia, onde fomos socorridos por um carro da defesa civil."

Levado para o hospital de Pucallpa, a primeira coisa que Souza fez foi telefonar para o pai, em São José dos Pinhais (PR), para avisar que estava bem. O médico que cuida do brasileiro, Diego Mendoza, disse ao Estado que ele teve queimaduras de segundo grau em 14% do corpo, principalmente nos braços e face. Mas não deve ficar com seqüelas ou cicatrizes no rosto.