Título: 'Na hora em que o presidente começar a interferir no BC, não precisa mais ter BC'
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A4

BRASÍLIA - O presidente Luiz Inácio Lula da Silva usou ontem seu discurso no Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) para acentuar que não permitirá "atos irresponsáveis" na área econômica em razão da corrida eleitoral de 2006. Lula reconheceu que o crescimento da economia brasileira, estimado oficialmente em 3,4% para 2005, não será "nenhuma Brastemp". Mas advertiu que qualquer medida populista que possa pôr em risco a credibilidade nessa área e provocar retrocesso econômico afetará os mais pobres, que "não têm como se defender do vendaval". "Quero fazer um alerta aos pessimistas: o resultado deste ano não será nenhuma Brastemp, mas será um bom resultado", afirmou. "O que eu não posso aceitar é que, a pretexto da eleição de 2006, as pessoas ajam de forma irresponsável, colocando em risco a oportunidade que este País tem de consagrar algumas políticas, tanto na macroeconomia quanto na política social", destacou, ressaltando que ainda não decidiu se será candidato à reeleição.

Lula teve o cuidado, em seu discurso, de não mencionar se manterá Antonio Palocci no Ministério da Fazenda. Além disso, deu exemplos de possíveis "atos irresponsáveis" que lhes foram recomendados, sob o argumento da ambição eleitoral.

Uma delas foi a proposta de mudança na forma de definição da taxa básica de juros, a Selic, atualmente a cargo dos diretores do Banco Central. "Na hora em que o Presidente da República começar a interferir no Banco Central, não precisa mais ter Banco Central, trago para minha sala e eu determino as coisas", atalhou Lula.

Da mesma forma, rebateu as pressões de exportadores contra a valorização do real em relação ao dólar, que diminuiu seus rendimentos, lembrando uma máxima de Palocci: "O problema do câmbio flutuante é que ele flutua." Por fim, valeu-se do exemplo do salário mínimo, ao relatar que recebeu conselhos para apoiar a decisão do Senado de elevar o valor de R$ 300 para 384, na semana passada. A iniciativa foi derrubada, em seguida, em votação na Câmara dos Deputados. "Graças a Deus, a Câmara agiu com a maior prudência e votou os R$ 300. Se tivesse votado R$ 384, eu teria vetado apenas por uma questão de responsabilidade. Eu não posso brincar com o dinheiro que não é meu."