Título: "O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência"
Autor: Denise Chrispim Marin
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A4

JUSCELINO: Queria lembrar a vocês alguns momentos históricos. Aliás, ontem, comemorou-se a morte de Getúlio Vargas. Então, eu queria lembrar para vocês que crise, neste país, já levou, em 1954, o presidente Getúlio Vargas a se matar. Crise, neste país, levou o Juscelino a ser mais achincalhado do que qualquer outro presidente da história do Brasil. Se alguém tiver dúvida, pegue os jornais da época para ver o que se falava do Juscelino Kubitschek, para ver quantas manchetes de jornais chamando-o de ladrão. Ele só foi reconhecido - hoje todo mundo sente orgulho de colocar um cartaz do Juscelino na sua casa - depois que foi cassado e muito depois que morreu.

JÂNIO: Jânio Quadros, que não era nenhum homem de esquerda, desistiu por causa do inimigo oculto. Até hoje nós não sabemos quem são os inimigos ocultos. Estão tão ocultos que a gente não conseguiu saber, e ele morreu sem contar para a gente. Mas tem adversários ocultos porque tem pessoas que falam coisas, não se apresentam, e você fica pagando pela irresponsabilidade de alguém que falou sem provar nada.

JANGO: O João Goulart foi obrigado a renunciar.

SUICÍDIO: Sobre essa história do João Goulart, do Getúlio, do Juscelino, eu quero dizer para vocês o seguinte: nem farei o que fez o Getúlio Vargas, nem farei o que fez o Jânio Quadros, nem farei o que fez o João Goulart. O meu comportamento será o comportamento que teve o Juscelino Kubitschek: paciência, paciência e paciência. Porque a verdade prevalecerá, e o povo brasileiro vai saber verdadeiramente o que está acontecendo no Brasil, quem são os ocultos ou não, porque os públicos nós já sabemos. Vai saber, concretamente, quem praticou ou não corrupção neste país.

PACIÊNCIA: Se depender da minha paciência, da minha convicção e dos meus compromissos com o povo deste País, iremos nos debruçar em cima da verdade e ela será a tônica de análise para o povo brasileiro. Pode demorar um mês, três meses, um ano ou dois anos, não importa.

INSTITUIÇÕES: O que já conseguimos construir de democracia no Brasil é maior do que qualquer crise que este país possa suportar, por mais grave que ela seja. Porque há instituições sólidas. Qualquer que seja a tempestade, qualquer que seja o seu tamanho, as instituições são capazes de enfrentá-la.

CORRUPÇÃO: Eu fico imaginando a ansiedade da sociedade brasileira, entre a perplexidade, a angústia e a vontade de que as coisas sejam resolvidas o mais rapidamente possível. Eu estive em Vitória da Conquista (BA) e um cidadão que me disse: "O senhor tem que mandar colocar na cadeia, tem que prender." Porque é essa um pouco a angústia das pessoas mais simples da sociedade. É de que a gente mande prender, apure, denuncie e, lamentavelmente, não sei se felizmente, a democracia não permite que as coisas aconteçam assim. A democracia tem um rito processual.

VENENO: Quando é que eu acho que as coisas começam a ficar muito mais graves e coloca-se muito mais veneno na própria crise? É quando tentam envolver um homem da magnitude do Márcio Thomaz Bastos, com denúncias de um gangster que está condenado a 25 anos de cadeia e que apresenta como denúncia a sua declaração de Imposto de Renda. Eu disse ao procurador Cláudio Fonteles, como disse ontem ao Antônio Fernando (procurador-geral da República), que é exatamente pelo fato de o Ministério Público ter o poder que tem, que aumenta a responsabilidade de cada membro do Ministério Público em não fazer, mesmo sendo estadual, o que foi feito na denúncia ao ministro Palocci, pura e simplesmente, sem concluir uma investigação. Fazer um carnaval daquele, colocando em risco todo um trabalho que nós fizemos para garantir que a economia brasileira não sofra nenhum risco por conta da crise.

REELEIÇÃO: Lamentavelmente, parece-me que as eleições de 2006 tiveram uma antecipação. Sou amigo de vocês, já conversei com muitos de vocês nesses três anos de governo e duvido que algum de vocês tenha ouvido eu falar de 2006. Duvido. Porque a minha prioridade nunca foi a reeleição, mas a governança desse país. Aliás, ousei dizer um dia que era contra a reeleição porque votei contra na Constituição e não fui eu que propus que tivesse reeleição no Brasil. O que eu não posso aceitar é que, a pretexto da eleição de 2006, as pessoas ajam de forma irresponsável, colocando em risco a oportunidade que este país tem de consagrar algumas políticas, tanto na macroeconomia quanto na política social, o direito de esse País se tornar um País sólido.

CONGRESSO: Não adianta reclamar do Congresso Nacional. O Congresso Nacional é a cara da consciência política do eleitorado brasileiro no dia da eleição de 2002. Nós não podemos reclamar. O processo democrático é tão sólido que ele permite que, a cada quatro anos, ele troque o presidente, deputados, senadores, prefeitos e vereadores. E temos sempre a chance de melhorar. Basta querer.