Título: Conselho apóia Lula, mas cobra reação firme à crise
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - Representantes de vários setores da sociedade brasileira cobraram ontem do presidente Lula uma atitude firme diante da crise, a punição dos culpados e a retomada dos projetos do governo. As manifestações ocorreram na reunião do CDES, minutos antes do discurso do presidente. Embora tenham deixado claro o apoio a Lula, todos foram enfáticos sobre a necessidade de reação. "O seu governo é maior que essas pessoas e sua trajetória é maior que seu governo", disse o representante da Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave), Waldemar Verdi Junior. Ele leu um manifesto pedindo às lideranças do Congresso que, paralelamente às investigações, retomem o ritmo normal de funcionamento do Legislativo. "Com isso, ficará demonstrado que o Brasil é maior do que a crise."

"A saúde da economia não é garantia de estabilidade, muito menos de sustentabilidade", disse Ricardo Young, representante do Instituto Ethos. "Vossa Excelência não está sozinho. O País clama pela sua ação e estará unido para apoiá-lo."

DENUNCISMO

Para o representante da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Demétrio Valentini, o governo tem direito a um habeas-corpus político. "Não só para resguardá-lo de condenações imerecidas, mas sobretudo para garantir condições de governar de acordo com o mandato constitucional que a cidadania lhe concedeu", disse. "A situação se agrava pelo denuncismo exasperado, com evidentes intentos de desestabilizar o governo. O governo não pode se sentir acuado. É hora de reverter a situação."

O representante do Sindicato dos Metalúrgicos de Osasco, Jorge Nazareno Rodrigues, sugeriu uma reunião de Lula com as centrais sindicais. "Convoque aqueles que sonharam ao seu lado para construir o futuro deste país. Vamos virar o jogo, companheiro presidente."

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, afirmou que é importante ter uma agenda para o desenvolvimento. Ela vê hoje todas as condições para que seja gerado um círculo virtuoso, com duas vertentes: do crescimento econômico sustentável e da inclusão social.

Empresários que integram o Conselho elogiaram o discurso de Lula. O presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Armando Monteiro Neto, avaliou que o discurso foi o mais incisivo desde o início da crise política. "Essa fala foi importante, porque preocupa o CDES e os empresários que o País funcione", afirmou. "A crise política tem uma dinâmica própria. Mas é preciso que o País funcione, e o presidente fez um compromisso nessa linha."

Paulo Skaf, presidente da Fiesp, disse que o esforço do setor empresarial é fazer com que o País não pare enquanto Brasília "se acerta". "As decisões sobre investimentos dependem do potencial do Brasil e não de um ministro", afirmou. "Existem as autoridades competentes que devem cuidar disso (crise). São instituições sólidas que garantem que coisas que eventualmente ocorram com uma pessoa ou um ministro não afetem o País."

Já o ex-presidente da Fiesp Horácio Lafer Piva avaliou que o surgimento de denúncias envolvendo o ministro Antonio Palocci cria "um desconforto muito grande". "Mas tenho visto que os mercados e os agentes econômicos formadores de opinião reagiram com muita serenidade em relação às acusações."