Título: Queda no Ibope muda tom do pronunciamento
Autor: Tânia Monteiro
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A6

BRASÍLIA - O resultado da última pesquisa Ibope - mostrando que as denúncias de corrupção colaram na sua imagem pessoal e na credibilidade do governo, além de tirar muitos votos -, e as cobranças que ouviu ontem na abertura da reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES), levaram o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a fazer o mais forte discurso desde que começou a crise política. "Ele estava engasgado com tudo isso", comentou um interlocutor, ao confidenciar que Lula repetiu em público parte das queixas, lamentações e desabafos que vinha fazendo desde a semana passada.

Cobrado por alguns setores para que fizesse um novo discurso, mais detalhado, mais claro e mais autêntico do que o anterior - feito há duas semanas, na última reunião ministerial -, Lula estava esperando o momento adequado. Ontem, ao ouvir cobranças de diferentes segmentos da sociedade que participam do Conselho, Lula teria se inspirado.

Chamou a atenção de Lula, especialmente, a defesa do governo feita pelo representante da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). D. Demétrio Valentini disse que governo do PT "tem direito a um habeas-corpus político".

AMARGURA

Até mesmo as advertências de que não repetirá gestos de outros presidentes que se mataram, renunciaram ou foram obrigados a deixar o governo já tinham sido ouvidas.

Auxiliares próximos contam que, em conversas informais, Lula demonstra muita angústia e apreensão. "Ele está muito amargurado", confidenciou um deles.

De acordo com esses mesmos interlocutores, Lula tem repetido que quer ser lembrado como o presidente Juscelino Kubitschek, mas deseja que o reconhecimento venha ainda em vida. Queixa-se, ainda, de que "querem acabar" com o seu governo.

A fala do presidente Lula já estava prevista, como em todas as reuniões do CDES a que comparece. Mas o teor do discurso era outro, bem mais ameno, seguindo apenas o texto que tinha em mãos.

Com o início dos discursos dos conselheiros, Lula achou que era o momento de reforçar a sua fala, já que se tratava de uma platéia eclética, com representantes de todos os setores da sociedade.

O teor do que falaria, porém, vinha sendo preparado por Lula, nas conversas com os auxiliares próximos e nos desabafos.