Título: Bingos ajudaram campanha, confirma ex-assessor
Autor: Rosa Costa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A10

BRASÍLIA - O advogado Rogério Buratti disse ontem à CPI dos Bingos que havia acordo entre o PT e donos de casas de jogos para que, em troca de recursos para a campanha eleitoral, o partido se comprometesse a legalizar os bingos no País depois de chegar ao poder. Ele atribuiu todas as informações a Ralf Barquete, que foi secretário de Fazenda de Ribeirão Preto quando o ministro Antonio Palocci era prefeito. Ralf, que era muito amigo de Buratti - segundo o próprio advogado -, morreu de câncer na metade do ano passado, quando era assessor especial da Caixa Econômica Federal por indicação de Palocci.

O esquema que Barquete teria relatado a Buratti rendeu R$ 2 milhões ao caixa do PT. A metade vinda das casas de bingo de São Paulo e intermediada pelo próprio Barquete. Depois de acertar a doação, o secretário falou com o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e os empresários fizeram a doação diretamente a Delúbio.

A outra metade teria vindo de um esquema semelhante no Rio de Janeiro. Este, intermediado pelo então presidente da Loterj Waldomiro Diniz, depois assessor da Casa Civil quando José Dirceu era ministro. Ele foi demitido quando foi pego cobrando propina do empresário de jogos, Carlos Augusto Ramos, o Carlinhos Cachoeira.

De acordo com Buratti, em troca da doação, os donos de casas de jogos queriam que o governo legalizasse os bingos. Além disso, teriam ficado acertadas a renovação do contrato da Caixa Econômica Federal com a empresa Gtech, para administração da rede de loterias do País, e a negociação de cargos na CEF com a empresa. "Eu ouvi isso do Ralf. Mas essa parte dos cargos ouvi também do Enrico Gianelli", disse Buratti, referindo-se ao ex-advogado da Gtech do Brasil.

FALTAS

Pela terceira vez consecutiva, Gianelli não atendeu à convocação da CPI dos Bingos. Ele iria depor ontem na comissão, depois de Buratti, mas telefonou para os técnicos da CPI, alegando que não teria como chegar a Brasília, por problemas de vôo.

No dia 4, na primeira convocação, Gianelli alegou compromissos de agenda. Na segunda, obteve liminar do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello desobrigando-o de atender a CPI. Gianelli é suspeito de ter intermediado extorsão paga pela Gtech, na renovação dos contratos das loterias com a Caixa.

O presidente e o relator da CPI, senadores Efrain Moraes (PFL-PB) e Garibaldi Alves (PMDB-RN), avisaram que vão pedir ajuda à Polícia Federal para que Gianelli compareça para depor "debaixo de vara".