Título: Planilha pode provar pagamento de propina
Autor: Rosa Costa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A11

RIBEIRÃO PRETO - O cruzamento dos dados da quebra de sigilo bancário da Leão Leão e de duas agências bancárias que funcionavam dentro da empresa com uma tabela encontrada no computador do ex-presidente da firma Wilney Barquete é considerado o ponto de partida para as investigações que vão apurar o suposto pagamento de propina mensal às prefeituras de Ribeirão Preto, Matão, Sertãozinho e Monte Alto. A planilha, comparada aos saques da empresa, pode ser uma das comprovações do pagamento mensal de propina de R$ 50 mil para a prefeitura de Ribeirão Preto, durante a gestão do ministro Antonio Palocci (2001-2002), denunciado por seu ex-assessor Rogério Tadeu Buratti. As acusações, feitas na semana passada, foram confirmadas ontem por ele à CPI dos Bingos. Na tabela do computador do ex-presidente da Leão Leão, denominada "Balanço despesas diversas janeiro a dezembro 2004", consta o pagamento de R$ 226 mil mensais, no ano de 2004, à cidade de Ribeirão Preto. Buratti confirmou reconhecer que parte dessas despesas pode ter relação com os R$ 50 mil pagos mensalmente à prefeitura de Ribeirão. "Trata-se de um relatório gerencial, e não contábil", diz Buratti.

O dinheiro seria entregue ao ex-secretário de Fazenda de Palocci Ralf Barquete Santos (já morto), que o repassava ao PT, segundo Buratti. Questionado ontem se Palocci tinha conhecimento, respondeu: "Nenhuma empresa faz uma contribuição, nem pequena nem grande, sem que o patrão saiba, como se diz no meio empresarial. Então acredito que ele (Palocci) soubesse." Mas acrescentou nunca ter ouvido referência a isso.

No arquivo do computador, onde estão os valores totais pagos aos municípios, há janelas ocultas que detalham cada um dos pagamentos. Eles têm os mesmos valores mantidos durante todos os meses do ano.

No caso de Ribeirão, as despesas estão referidas nas janelas ocultas da seguinte maneira: "164600 - princ"; "50000 - dr."; "2000 - c" e "T = 226600". Na tabela principal, porém o valor total é identificado por Barquete como "226,00".

O Ministério Público Estadual e a Polícia Civil consideram que esse pode ser o registro das propinas pagas às prefeituras. A suspeita é que a sigla "dr." tenha alguma relação com o dinheiro que a Leão Leão pagava para a prefeitura e seria repassado ao PT. A tabela, porém, é de 2004 - período em que Palocci estava em Brasília.

NOTAS

A quebra de sigilo, pedida pelo Ministério Público Estadual e pela CPI dos Bingos, ainda não foi autorizada, mas elas comprovariam o caminho do dinheiro apontado ontem por Buratti. Segundo ele, os valores repassados pela Leão Leão para as prefeituras saiam de duas formas. Ou em dinheiro sacado nos caixas dos bancos que trabalhavam com a empresa, ou entravam nas notas de prestação de serviços feitas pela prefeitura.

No caso dos saques no caixa, a saída do dinheiro era justificada com notas frias.

A promotoria e a polícia vão pedir também uma análise contábil nas contas da empresa, num novo inquérito que vai apurar corrupção e lavagem de dinheiro. O atual inquérito, em fase final, apura formação de quadrilha para fraudes em licitações.

Segundo Buratti, havia, além das propinas, pagamentos diversos, como contribuições para eventos e até para órgãos locais de imprensa. O ex-assessor de Palocci explicou que as propinas e as contribuições eram feitas para que as prefeituras mantivessem os pagamentos dos contratos de lixo em dia com a empresa.

Ele reconheceu além de Ribeirão, os pagamentos para outras três cidades: Matão, Sertãozinho e Monte Alto. Na planilha da Leão Leão, constam valores fixos pagos mensalmente às cidades de Araraquara (R$ 55 mil), Matão (R$ 34 mil), Sertãozinho (R$ 30 mil) e Monte Alto (R$ 9 mil). Há ainda referência a valores pagos ao Departamento de Estradas e Rodagem (DER) e a Conter (não identificada). Buratti só isentou a prefeitura de Araraquara, pois, segundo ele, sempre havia atraso nos pagamentos do contratos.