Título: Ex-assessor acusa Palocci na CPI e diz que está pronto para acareação
Autor: Rosa Costa e Lisandra Paraguassú
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A11

BRASÍLIA - O advogado Rogério Buratti reiterou ontem, na CPI dos Bingos, a denúncia de que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, recebia nos dois últimos anos do mandato de prefeito de Ribeirão Preto, em 2000 e 2001, R$ 50 mil por mês de um esquema de propina que alimentava o caixa de campanha do PT. O dinheiro da empresa Leão Leão era entregue a Delúbio Soares, tesoureiro do partido na época, pelo então secretário de Fazenda do prefeito, Ralf Barquete, morto no ano passado. Buratti assegurou que Palocci sabia do esquema. "Nenhuma empresa faz uma contribuição, pequena ou grande, sem que o principal, o patrão, o prefeito saiba, então acredito que ele soubesse", alegou. Instigado pelos senadores a citar o nome de outros prefeitos, Buratti citou apenas o de Palocci, referindo-se aos demais casos pelo nome das cidades. "Acredito que todos eles sabiam do pagamento, Palocci, Matão, Sertãozinho, Monte Alto."

O advogado disse que aceitaria fazer acareação com o ministro, "olhando olhos nos olhos", como frisou o relator da CPI, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN). "Se necessário fosse, eu reafirmaria o depoimento que dei ao Ministério Público na presença do ministro", afirmou.

Apesar das acusações, Buratti admitiu que não tem provas para confirmar o que disse à CPI. Sua única testemunha seria Ralf Barquete, apontado como responsável pelos repasses a Delúbio. "É muito difícil você falar de uma coisa, da qual você tem informações e não tem provas, porque a única prova é uma pessoa morta", disse. "Eu conversava muito com o Ralf. Era uma pessoa honrada, tinha uma família bonita, um pai maravilhoso, uma pessoa que admirei muito. Fomos amigos durante dois, três anos, os últimos anos da vida dele, e é lamentável tratar dessa forma de uma pessoa que está morta."

Buratti foi secretário de Governo de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto em 1993 e 1994. Segundo ele, denunciar o ministro à promotoria foi "o maior conflito" que já teve na vida. Buratti disse não saber se Palocci "pegou ou não no dinheiro (nos R$ 50 mil)" ou se agia por ordem do PT, sem levar em troca vantagem pessoal. "Ele tinha uma trajetória ligada ao PT", alegou. "Tenho profundo respeito pelo ministro Palocci, é um homem de bem, um dos poucos pilares que sustentam este governo, homem íntegro e correto."

O advogado lamentou que Palocci não o tenha defendido quando foi "banido do PT", em 1994, por suspeita de corrupção na prefeitura e, somente agora, como fez na entrevista de domingo, venha dizer que não o manteve no cargo porque não achava adequado. "Acho que não deveriam ter passado 12 anos para ele dizer isso", queixou-se. Seu depoimento durou cinco horas e meia. "Ele tentou livrar o ministro, mas não conseguiu", afirmou Garibaldi Alves. Sobre os telefonemas para o ministro, Buratti chegou a dizer que fez isso "várias vezes", mas se corrigiu e disse que foram "poucas vezes".

Segundo ele, em determinadas ocasiões, para falar com o ministro, ligava para o celular de seu assessor Ademirson Ariosvaldo da Silva. "Eram coisas simples", alegou, limitando-se a dizer do que se tratava apenas nas duas ligações de julho de 2003, quando teriam conversado "sobre o estado de saúde do Ralf".