Título: Ex-gerente acusa Silvio Pereira de fraudar licitação
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A14

BRASÍLIA - Em depoimento prestado ao Ministério Público Federal e enviado à CPI dos Correios, o ex-diretor dos Correios Maurício Marinho disse que Silvio Pereira, ex-secretário-geral do PT, operou para favorecer a empresa HHP (Hand Held Products) numa licitação da estatal. Segundo Marinho, edital para a compra de equipamentos de informática foi dirigido para a empresa, que teria Silvio como "padrinho". O depoimento foi tomado ao longo de julho, em vários dias. Foi mantido em sigilo pelos procuradores até ontem porque a Polícia Federal estava fazendo escuta nos telefones dos funcionários e lobistas denunciados.

A licitação de que Marinho fala previa a compra de microcoletores de dados, docas e impressoras portáteis. Ele não mencionou o ano nem o valor, mas em 2003, já no governo Lula, a HHP ganhou licitação para fornecer "coletores para rastreamento de objetos".

O ex-gerente contou aos procuradores que houve percalços na licitação. Segundo ele, Edilberto Petry, funcionário da área de Tecnologia da estatal, estava nervoso no dia da abertura das propostas, porque outra empresa teria burlado o esquema. Segundo Marinho, Petry, acompanhado de técnicos, dirigiu-se à comissão de licitação para tentar desqualificar as propostas das outras empresas.

Como não teria tido sucesso, Petry teria desqualificado posteriormente a empresa vencedora, alegando que não estaria de acordo com especificações do edital. Marinho garantiu ao MP que o parecer de Petry levou a Assessoria Jurídica dos Correios a revogar o processo.

Petry era subordinado ao diretor de Tecnologia, Eduardo Medeiros, indicado por Pereira. No depoimento, Marinho diz que os contratos sob a alçada de Medeiros também eram alvo de "acertos financeiros" com as empresas fornecedoras.

Em nota divulgada ontem, a HHP classificou como "descabidas" as denúncias de que tenha se beneficiado do suposto lobby de Silvio Pereira. A empresa assegura que "nunca teve qualquer contato com o ex-secretário-geral do PT". A CPI dos Correios também investiga suposto lobby de Pereira nos contratos do Correio Postal Noturno, vencidos pela empresa Skymaster.

GUIA

O depoimento de Marinho é minucioso, praticamente um guia sobre como viciar licitações. Ele detalha os momentos propícios, as formas e porcentuais de propinas e o número de funcionários necessário para montar o esquema. E chega a confessar que recebia propina de quatro fornecedores diferentes.

Aos procuradores, Marinho garantiu que os ex-presidentes João Henrique Sousa (PMDB), Airton Dipp (PDT) e Hassan Gebrim (PSDB) montaram esquemas próprios de corrupção e recebiam propinas. Nomeado no governo Fernando Henrique (PSDB), Gebrim seria sócio da empresa Politec, que tem contratos com a estatal. Marinho disse ter sido procurado por representantes da Politec para que houvesse reajuste num dos contratos da empresa. Segundo o ex-gerente, houve acertos da Politec com os dois principais esquemas na estatal: com o então diretor comercial Carlos Eduardo Fioravante, indicado pelo PMDB, e com o diretor de Administração, Antônio Osório, indicado pelo PTB.

Marinho relatou que Dipp ficou pouco tempo nos Correios e não teve tempo para muitos "acertos", embora tenha participado da renovação do contrato da Skymaster. No caso do último presidente, Sousa, o esquema teria entrado numa "fase de solidariedade", envolvendo toda a diretoria colegiada.