Título: Tarso diz que decide candidatura até domingo
Autor: Ana Paula Scinocca e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Nacional, p. A15

O presidente interino do PT, Tarso Genro, pediu prazo até domingo para anunciar seu destino na disputa à presidência do partido pelo Campo Majoritário, mas já autorizou o grupo a procurar um substituto para seu nome. O mais cotado é o secretário-geral do partido, deputado Ricardo Berzoini. Tarso avisou aos aliados que não participa dos debates do Processo de Eleição Interna (PED) em Porto Alegre, hoje, e em Florianópolis e Curitiba, no fim de semana. O movimento para que ele represente o Campo, no entanto, ganhou ontem a adesão de dois governadores do PT, Jorge Viana (AC) e Wellington Dias (PI). A situação de Tarso complicou-se por causa da repercussão de suas críticas à política econômica, ao governo e ao próprio PT, além das cobranças públicas sobre a saída do deputado e ex-chefe da Casa Civil José Dirceu da chapa. Patrono do encontro com os governadores - que ainda prometem atrair o apoio de prefeitos em todo o País -, o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante ainda não desistiu de costurar um acordo que garanta Tarso na corrida, mas deve também procurar Berzoini.

O presidente interino do PT recusou a primeira hipótese de acordo: manter Dirceu na chapa, mas deixá-lo de fora da composição do Diretório Nacional. O grupo de apoio a Tarso tentou acertar uma nova conversa entre ele e Dirceu, decretando o fim das animosidades públicas e buscando garantir o compromisso do presidente interino com uma espécie de "programa de governo básico" do Campo para o PT. A idéia é evitar uma "caça às bruxas" e preservar o governo Lula.

Agora, está sendo negociada até mesmo a forma como Tarso deve desembarcar da campanha, de modo a poupar o eventual substituto. "O Lula pediu que o Tarso esperasse alguns dias antes de anunciar qualquer decisão. Mas ficou chateado com as declarações do ex-ministro e tenta ajudar a encontrar um caminho para o PT", afirmou um dirigente com acesso ao Planalto. Segundo o mesmo interlocutor, o "programa básico" será negociado com Berzoini.

Tarso emitiu sinais contraditórios ontem sobre sua candidatura. De manhã, depois de encontro esvaziado com a bancada do partido na Assembléia Legislativa, cobrou do Campo que definisse "quem fala por ele", citando declarações de Dirceu na véspera. "No momento em que vi Dirceu falando pelo Campo Majoritário, cheguei à conclusão de que todas as questões políticas que coloquei eram corretas", afirmou, referindo-se à defesa da "refundação" do PT e de uma "ruptura" total com o núcleo dirigente anterior, sobre o qual Dirceu exerceu forte influência. "Essas questões não são ofensivas a ninguém. Agora, o Campo vai ter de dizer à sociedade e a si mesmo quem fala por ele."

Mais tarde, depois do encontro com Mercadante e os governadores, mudou o tom. Se recusou, por exemplo, a indicar nomes para substitui-lo caso não seja candidato e não falou em prazo para a definição, ao contrário do que fez nos últimos dias. Sem admitir ter esperança sobre a decisão que atribui ao Campo, disse trabalhar mais com o "realismo" que a situação exige. Realismo, segundo ele, nem "cínico" nem "provocativo". Ressaltou, porém, que o PT vive uma situação atípica, que "exige condutas políticas atípicas".

Ao chegar na sede do PT para o encontro com Tarso, Viana cobrou coerência e passou o pito em Tarso e Dirceu: "Esses dirigentes têm de parar de atrapalhar. Está na hora de a gente se juntar, não de nos dividirmos. Para ajudar o País temos de consertar o partido."