Título: Ata do Copom e Buratti deixam o mercado otimista
Autor: Silvana R, Mário R, Patrícia C. Mello e Rita T.
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

A ata benigna do Comitê de Política Monetária (Copom) e o depoimento de Rogério Buratti na CPI dos Bingos, sem novidades, animaram o mercado ontem. Analistas interpretaram que a ata do Copom abre espaço para um corte de juros já em setembro. Além disso, o depoimento de Buratti - ex-assessor do ministro da Fazenda, Antonio Palocci - não trouxe novas denúncias ou provas contra Palocci. Essa "falta de más notícias" levou a Bovespa a subir 2,58% e o risco país a cair 1,67%, chegando a 412 pontos. O dólar recuou 1,68% e encerrou o dia cotado em R$ 2,39, a mínima do dia. Títulos da dívida externa também tiveram um dia bastante positivo. O Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, teve alta de 1,24%.

Investidores haviam assumido posições defensivas diante da possibilidade de acusações graves e comprovadas no depoimento de Buratti. Na sexta-feira, o dólar havia disparado em reação às denúncias de Buratti ao Ministério Público, de que Palocci, em seu segundo mandato como prefeito de Ribeirão Preto, recebeu propina mensal de R$ 50 mil de uma empresa de lixo, que era repassada ao PT.

No depoimento de hoje, Buratti reafirmou sua denúncia contra Palocci e disse que teve conhecimento da informação pelo então secretário da Fazenda da Prefeitura de Ribeirão Preto, Ralf Barquete, que já morreu. "Tinha tudo para ser um dia negro: quinta-feira virou o dia internacional do boato, o petróleo estava subindo muito e havia depoimento do Buratti", diz um operador. "Mas como todo mundo tinha saído vendendo na expectativa de que o Buratti ia entregar mais escândalos, e ele não falou nada, todos voltaram a comprar."

O tom ameno da fala de Buratti foi interpretado pelos operadores do mercado como sinal de que o ex-assessor não deve ter muito mais a acrescentar ao que já disse nas investigações. "Buratti não acrescentou nada e isso trouxe um grande alívio", diz Jason Vieira, economista da GRC Visão. "O Buratti voltou a dizer que a única testemunha contra o Palocci é um sujeito que já morreu", comentou um operador.

De manhã, a ata já tinha trazido otimismo ao mercado. Para analistas, ao omitir da ata deste mês a expressão "perspectiva de manutenção da taxa de juros básica por período suficientemente longo de tempo", que esteve presente em atas anteriores, o Copom sinalizou que poderá iniciar o corte da Selic em setembro.

O diretor-executivo do Banco Itaú, Sérgio Werlang, acredita no corte da Selic já a partir do próximo mês. Werlang afirmou que esperava um corte dos juros na reunião deste mês. "Não entendi porque não houve queda", disse. Para ele, o Copom tende se "animar a reduzir os juros mais rapidamente" a partir de setembro. "Há espaço para isso."

Alguns indicadores divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) também deixaram o mercado otimista. Um deles foi o IPCA-15, que ficou em 0,28% em agosto, ante 0,11% em julho. Apesar do aumento, o índice não provocou mudança na convicção de que a inflação tende a recuar.

PETRÓLEO

Lá fora, o petróleo seguiu sua escalada, mas também teve pouco efeito sobre os negócios. Em Nova York, o barril para outubro subiu 0,25% atingindo o novo recorde de US$ 67,49l.