Título: Defasagem de renda do Brasil é a maior do mundo
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Economia & Negócios, p. B6

O relatório sobre desigualdade da ONU informa que o Brasil tem a pior defasagem de renda do mundo, com a renda per capita dos 10% mais ricos superando em 32 vezes a dos 40% mais pobres. Em dois outros países latino-americanos mencionados no levantamento, Uruguai e Costa Rica, a proporção é de 8,8 e 12,6 vezes, respectivamente. O documento diz ainda que a abertura comercial no Brasil e México levou os salários a cair. O estudo procura caracterizar a desigualdade como algo que vai muito além das simples diferenças de renda, e inclui acesso à educação, saúde, poder político, segurança, meio ambiente etc. Segundo o documento, todas estas dimensões estão inter-relacionadas, e têm de ser abordadas conjuntamente para se superar o problema.

O trabalho é mais uma edição de uma série de documentos bianuais da ONU sobre a "situação social no mundo". Os temas centrais variam a cada publicação. Na abertura do atual documento, a ONU afirma que o compromisso global de superar a desigualdade, assumido na Cúpula de Desenvolvimento Social de Copenhague, em 1995, e reforçada pela Declaração do Milênio, está esmaecendo. "Ignorar a desigualdade na persecução do desenvolvimento é perigoso", alerta a ONU.

O documento critica a privatização de programas sociais e elogia os sistemas de aposentadoria. "Os benefícios para as pessoas idosas freqüentemente estendem-se para a família toda, já que o dinheiro e outros recursos que eles possuem invariavelmente são repartidos com os descendentes e dependentes mais jovens", diz o relatório, acrescentando que "os governos deveriam, portanto, identificar mudanças de políticas que sejam necessárias para sustentar e apoiar os idosos, em vez de tentar cortar custos".

O relatório observa que estão ausentes dos debates internacionais temas muito importantes para os países em desenvolvimento, como mobilidade internacional de trabalhadores, facilidade de remessas e coordenação de políticas macroeconômicas entre os países ricos para evitar turbulências na economia global.

A ONU diz que os gastos militares mundiais provavelmente passaram de US$ 1 trilhão em 2005 - 20 vezes mais do que a ajuda dos países ricos para os pobres . .