Título: China pode reduzir vendas ao Brasil
Autor: Renata Veríssimo
Fonte: O Estado de São Paulo, 26/08/2005, Economia & Negócios, p. B8

BRASÍLIA - A China está disposta a negociar uma redução voluntária de suas exportações para o Brasil. O recado foi transmitido ao ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, Luiz Fernando Furlan, em carta enviada na quarta-feira pelo ministro de Comércio da China, Bo Xilai. O secretário interino de Comércio Exterior, Armando Meziat, disse que os setores prejudicados pelas importações da China têm até segunda-feira para enviar ao ministério dados comprovando os danos causados à indústria nacional. "Quem não entregar não entra nas negociações e não adianta chorar", avisou o secretário. "O ministro vai a Pequim para conseguir um acordo de autolimitação. Então, ele tem de levar informações que permitam decidir qual vai ser o nível dessa autolimitação." Essa foi a terceira correspondência trocada entre Furlan e Bo.

Os setores mais prejudicados pela invasão chinesa são têxteis, confecções, calçados, ópticos, máquinas e brinquedos, segundo Meziat. Ele afirmou que as importações da China cresceram muito este ano, tanto em números absolutos quanto em termos de participação nas importações totais do País. "A China está tirando outros importadores da nossa pauta."

Por sugestão de Bo, uma missão precursora formada por técnicos erno brasileiro chegará à China uma semana antes do encontro dos ministros para avançar nas negociações.

As negociações não eliminam, porém, a disposição do Brasil de regulamentar os mecanismos de salvaguardas contra as importações chineses. "Seria uma forma de estreitar as relações bilaterais. Não tem nenhuma relação com o fato de o Brasil regulamentar as salvaguardas", esclareceu Meziat.

EUROPA

Líderes da Comissão Européia, especialistas em comércio internacional e representantes do governo chinês estiveram reunidos ontem em Pequim, na busca de um acordo que permitirá contornar a crise das exportações de produtos têxteis chineses que inundam o mercado europeu. A reunião continua hoje.

Atualmente há 48 milhões de malhas, 17,1 milhões de calças, mais de 500 mil camisetas e sutiãs retidos em portos e aeroportos europeus.

Desde segunda-feira, 6 das 10 categorias de produtos alcançados pelas restrições de importações européias já atingiram seu volume máximo anual, segundo um acordo negociado pelo comissário europeu do Comércio, o britânico Peter Mandelson, no dia 10 de junho.

Seis semanas depois da entrada em vigor do acordo, 12 de julho, a maior parte das categorias listadas já havia atingindo seu teto. Agora, distribuidores e importadores surpreendidos pelo acordo lembram que basearam suas encomendas para o inverno europeu em coleções e quantidades de produtos dessas categorias que só a China tinha condições de atender rapidamente, havendo possibilidade de penúria durante a temporada outono-inverno.

Hoje, a China ocupa importante parte do mercado europeu : 21% de camisetas; 38% de malhas; 35% de calças e 54% dos sutiãs. Só nos portos franceses cerca de 40 contêineres aguardam liberação da alfândega para entrar no país, cerca de 1 milhão de peças originárias da China.