Título: Bibi desafia Sharon e abala partido
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Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Internacional, p. A20

O ex-primeiro-ministro de Israel Binyamin Bibi Netanyahu, que foi ministro das Finanças do atual governo e hoje é o principal adversário do primeiro-ministro, Ariel Sharon, anunciou ontem que disputará a liderança do partido Likud e, conseqüentemente, do governo. "Apresento minha candidatura à liderança do Likud e do governo", anunciou Bibi numa entrevista coletiva em Tel-Aviv. Se a estratégia de Bibi funcionar, ela pode levar à antecipação das eleições gerais em Israel, causando um verdadeiro terremoto na política do país, à provável saída de Sharon do partido e a uma profunda divisão na legenda conservadora. "O Likud precisa de um dirigente que possa unir seus filiados, reconstruir sobre as ruínas, dirigir o partido em direção à vitória e conduzir o Estado no espírito de nossos princípios. Acho que posso fazer isso", afirmou o ex-primeiro-ministro.

O discurso de Bibi foi marcado pela crítica às políticas de Sharon, particularmente à retirada de 21 assentamentos judaicos da Faixa de Gaza e 4 da Cisjordânia. "O homem que recebeu os votos da população deu as costas a ela , abandonou os princípios do Likud e escolheu um caminho diferente, o da esquerda", prosseguiu Bibi. Sharon foi um dos fundadores do partido, criado no começo dos anos 70. "Precisamos de um primeiro-ministro que não dê impulso ao terrorismo, freie a corrupção e feche as divisões entre nós."

Partidários de Bibi consideram que, com a retirada israelense, a Faixa de Gaza se transformará em uma base para grupos terroristas que atacam Israel.

Ele acusa Sharon de ter feito várias concessões aos palestinos sem obter nada em troca. "Vocês conhecem meu histórico. Comandei negociações difíceis (com os palestinos, durante seu mandato, entre 1996 e 1999) e estabeleci o princípio da reciprocidade para o processo de paz", argumentou.

SANÇÃO INTERNA

Bibi fez o anúncio depois de uma comissão do Likud ter decidido, na segunda-feira à noite, que Sharon será submetido, no dia 26, a uma moção de censura do comitê central do partido. Os 3 mil membros do comitê podem decidir a realização de novas eleições primárias em novembro. Caso isso ocorra, será a primeira vez que um partido tenta expulsar seu líder enquanto exerce a chefia do governo.

Pesquisas indicam que Sharon mantém o apoio da população israelense, mas analistas estimam que Bibi tem maioria no comitê central do Likud, e pode tirar a liderança de Sharon nas próximas eleições internas. Uma das opções de Sharon, caso se veja ameaçado pela votação do dia 26, seria a formação de um novo partido, o que dividiria os conservadores.

As próximas eleições gerais israelenses estão marcadas para novembro de 2006, mas a manobra de Bibi pode antecipar a votação, ante a possibilidade de convocação das primárias do Likud levar o Partido Trabalhista a deixar a coalizão governante, provocando a dissolução do Parlamento.