Título: Relator da CPI vai responsabilizar Dirceu por esquema em estatais
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Nacional, p. A4

O deputado José Dirceu (PT-SP) será apontado pelo relator da CPI dos Correios, deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR), como o responsável pela montagem de um esquema que permitia aos aliados do governo indicar para empresas estatais dirigentes encarregados de arrecadar recursos para seus partidos políticos. Este será um dos pontos centrais do relatório parcial que Serraglio vai apresentar amanhã. "Acho que alguém da República teve responsabilidade. E está se isentando o presidente Lula. Mas houve uma situação que deveria ter sido contida. Minha percepção é que não chega ao presidente Lula. Mas alguém é responsável por isso. Aparentemente havia um chefe de governo e um chefe de Estado. E Dirceu era o chefe de governo", disse Serraglio.

O texto vai apontar 18 deputados contra os quais há indícios de envolvimento em irregularidades. O relator não vai pedir claramente a cassação dos parlamentares, mas indicará as evidências capazes de levar à perda dos mandatos. "Segundo o meu juízo, a situação de José Dirceu é muito complicada e exige uma condução um tanto quanto severa", acrescentou.

Dirceu não comentou as declarações, mas seus assessores avaliam que as posições do relator caracterizam um julgamento meramente político, o que pode acabar ajudando o ex-ministro. Serraglio vai se reunir com o relator da CPI do Mensalão, deputado Ibrahim Abi-Ackel (PP-MG), para fechar um parecer conjunto.

De acordo com Serraglio, há provas fortes contra um grupo de 12 a 15 deputados. "Imaginar que parlamentares não percam o mandato é contrariar a expectativa da sociedade e as provas que estão sendo colocadas", disse. O líder do PL, deputado Sandro Mabel (GO), e o ex-líder do PP deputado Pedro Henry (MT) vão ter seus nomes incluídos no relatório, mas com a ressalva de que contra eles não foram encontradas provas.

Outro que está com a cabeça a prêmio no relatório de Serraglio é o ex-presidente da Câmara João Paulo Cunha (PT-SP), que recebeu R$ 50 mil de caixa 2 de Marcos Valério. Como agravante, João Paulo fechou um contrato de cerca de R$ 7 milhões com a DNA, empresa de Marcos Valério, para fazer a publicidade da Câmara. O deputado José Mentor (PT-SP) ficou também em situação complicada por ter recebido R$ 120 mil do esquema de Valério, além de ter excluído o Banco Rural do relatório final da CPI do Banestado, que investigou remessas ilegais para o exterior.

Serraglio diz estar certo de que havia esquema de pagamento a parlamentares para votar com o governo. "Está comprovado o recebimento em espécie de dinheiro por parlamentares. Havia recebimento de vantagem indevida, ilícita", comentou. Para ele, não há diferença entre quem foi ao banco retirar dinheiro e quem mandou um assessor.

Além disso, "no relatório teremos as evidências contra alguns muito comprometedoras e contra outros que são menos graves. O Sandro Mabel está nesse limiar, assim como o Pedro Henry", informou ainda o relator. Serraglio lembrou que Mabel está sendo investigado pelo Conselho de Ética e Decoro Parlamentar da Câmara. Ele estuda, ainda, a inclusão na lista do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG), que recebeu recursos de Valério em 1998.