Título: Câmara protesta e Severino nega abafa
Autor: Denise Madueño
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Nacional, p. A5

As sucessivas declarações do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), a favor de um desfecho brando para a crise política produziram ontem uma sessão em que ele foi bombardeado por críticas. A gota d'água foi sua tese, veiculada em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, de restringir o alcance das cassações de mandato de deputados. As críticas a essa operação abafa levaram Severino a ler nota de esclarecimento. "Não sou leviano, irresponsável ou muito menos desequilibrado", disse. "Alguma história eu tenho. Digo isso para denunciar avaliações equivocadas, por vezes injuriosas, que fazem a respeito da minha conduta na presidência da Câmara", defendeu-se. Em outra linha contra Severino, o presidente do PPS, deputado Roberto Freire (PE), anunciou após reunião da Executiva do partido que a sigla vai apresentar pedido de cassação contra todos os parlamentares que forem relacionados pelas comissões parlamentares de inquérito, que estão trabalhando no Congresso, como supostamente envolvidos em corrupção ou no chamado mensalão.

A estratégia é para evitar que Severino freie os processos na Mesa. De acordo com as regras da Casa, quando a iniciativa é de um partido político, o pedido de cassação segue diretamente para o Conselho de Ética da Câmara, evitando a corregedoria, que funciona como um filtro dos processos.

"As CPIs não podem ficar na mão de um irresponsável como Severino", disse Freire. "Existe uma demonstração clara de que há uma tentativa de acordão para postergar as investigações. A sociedade não aceita isso", completou Freire.

A decisão do PPS provocou uma reação inusitada. "Estou com ciúmes", disse o deputado Chico Alencar (PT-RJ). "Quem deveria fazer isso era o PT. Evidente que, se for esperar essa Mesa, o processo não vai andar", completou Alencar, do grupo de esquerda do PT.

O líder da minoria da Câmara, deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), afirmou que Severino não pode ficar defendendo caixa 2 de campanha nem irregularidades praticadas por deputados. "Ele não foi eleito para levar essa Casa ao ridículo, para levar essa Casa à execração pública", protestou Aleluia. O líder sugeriu que Severino seja convocado para depor na CPI do Mensalão, já que afirmou em entrevista que houve compra de voto a favor da emenda constitucional que permitiu a reeleição do presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em resposta aos protestos de Aleluia, Severino acabou atraindo mais críticas. O presidente da Câmara afirmou ter declarado em entrevista não existir mensalão com base no parecer do relator do pedido de cassação do deputado Roberto Jefferson. "Eu acreditei na palavra do correligionário de V. Exa. que é o relator da matéria", disse. O relator, deputado Jairo Carneiro (PFL-BA), foi ao plenário protestar.

Carneiro contestou: "A entrevista (à Folha) do senhor foi concedida às 16h e o meu parecer foi divulgado à noite", disse Carneiro, lendo parte de seu relatório no plenário.

Severino declarara não acreditar na existência do mensalão e defendeu pena branda, como advertência e não a cassação de mandato, de parlamentares que teriam sido beneficiados pelo dinheiro do PT via contas bancárias do empresário Marcos Valério. "O presidente Severino foi leviano e irresponsável", acusou o líder do PSDB na Câmara, Alberto Goldman (SP). Para ele, Severino acabará recuando de suas declarações. "É sempre assim, ele dá opinião hoje e recua amanhã", afirmou Goldman. Como Freire e Aleluia, Goldman afirmou ser impensável um acordão para livrar deputados de punição.

No discurso no plenário em que negou que esteja promovendo manobras regimentais para que as investigações acabem em pizza, Severino disse que não deixará inocentes serem punidos. "Enganam-se aqueles que pensam que deixarei levar inocentes ao cadafalso, apenas para, ao desvario, ouvir soar as trombetas", discursou. "Tenho mais de 40 anos de vida pública e um nome ainda a zelar."

Severino argumentou no discurso que não tem amparo legal para enviar as representações que serão encaminhadas pelas CPIs ao Conselho de Ética, mas sim ao corregedor da Casa.