Título: Frente parlamentar denuncia 'abafão'
Autor: Sérgio Gobetti
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Nacional, p. A6

Uma visita ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), para denunciar um movimento de "abafão" para poupar parlamentares envolvidos em denúncias de corrupção será o primeiro passo da Frente Pró-Congresso, a ser lançada hoje. O grupo, que reúne cerca de 60 deputados de vários partidos, teve, na noite de ontem, a terceira e última reunião fechada. De agora em diante, fará uma série de visitas às diversas instâncias de investigação, das CPIs ao Tribunal de Contas da União, passando pelo Ministério Público e pela Polícia Federal. "O fundamento do relatório do Conselho de Ética e as declarações do presidente da Câmara, Severino Cavalcanti, coincidem com a tese do ministro da Justiça de que a culpa deve recair sobre o deputado Roberto Jefferson e, para os outros, a culpa é pequena, apenas de uso de dinheiro do caixa 2. Não é só caixa 2. Não importa se houve mensalão ou semestrão. Houve suborno", disse o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), um dos fundadores da frente. "Como o cheiro de pizza está muito forte, vamos mostrar o grupo a partir de amanhã (hoje)", reforçou a deputada Yeda Crusius (PSDB-RS).

Os deputados querem denunciar a tentativa de evitar a cassação de mandatos dos parlamentares que receberam dinheiro do esquema de arrecadação e distribuição de dinheiro não declarado, montado pelo empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, em parceria com o ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Na versão apresentada pelos dois, eles seriam os únicos responsáveis pelo esquema, que serviria apenas para saldar dívidas de campanhas.

A Frente Pró-Congresso está convencida, porém, de que o dinheiro, na verdade, fazia parte do pagamento de suborno para que parlamentares votassem com o governo. "É preciso uma investigação que vá até o fim, sem falsas punições", diz Yeda Crusius.

Para Gabeira, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, criminalista e um dos mais importantes conselheiros do presidente Luiz Inácio Lula da Silva desde que a crise estourou, dá a sustentação legal para a tese de que os parlamentares cometeram crimes menores ao não registrarem os recursos recebidos como contribuição de campanha.