Título: Suspeita é que Gtech operava 2 esquemas
Autor: João Domingos e Mariana Caetano
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Nacional, p. A8

A CPI dos Bingos obteve ontem novos indícios sobre a existência de um segundo esquema de extorsão contra a Gtech do Brasil, multinacional responsável pelo sistema de processamento das loterias da Caixa Econômica Federal. Para o relator, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), o depoimento do ex-advogado da Gtech Enrico Gianelli deixou clara a existência de dois grupos em conflito envolvidos na operação, a ponto de produzirem acusações mútuas. Gianelli é acusado pelos dirigentes da Gtech de ser um dos intermediários na operação para favorecer Rogério Buratti, que foi assessor de Antonio Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto. O outro esquema seria encabeçado pelo ex-secretário de Assuntos Parlamentares da Casa Civil Waldomiro Diniz.

"Há indícios, quase certeza, de que havia dois esquema movidos pelos senhores Waldomiro Diniz e Rogério Buratti tentando tirar vantagens da Caixa", afirmou o senador José Jorge (PFL-PE).

O presidente da CPI, Efraim Morais (PFL-PB), disse que a conclusão sobre "quem estava com quem" aparecerá na acareação que fará com os seis principais envolvidos no esquema: Waldomiro, Buratti, Gianelli, o empresário de jogos Carlinhos Cachoeira, o diretor da Gtech, Marcelo Rovai, e o advogado Walter Santos Neto.

Para Garibaldi, Gianelli comportou-se como "amigo fraterno de Buratti". Quase três horas depois de iniciar suas declarações, contou que foi pressionado a depor. Disse que daria detalhes numa sessão fechada. Mudou de idéia, mas não convenceu os parlamentares, ao afirmar que Rovai, sim, o teria ameaçado, em 2003, de "tirar" seu registro na OAB e de perder o emprego. Garibaldi disse ter entendido porque só agora, na quarta convocação, é que Gianelli compareceu à CPI. "Ele não queria depor antes de Buratti, provavelmente numa tentativa de casar as declarações."

Na semana passada, Buratti disse ter recebido de Rovai a proposta de facilitar a renovação com a Caixa. "O dinheiro, como doação, iria para o PT." Mas ele afirmou que a proposta foi "desautorizada" por Palocci.