Título: Lula critica 'denúncias levianas' e pede ao povo cuidado com imprensa
Autor: Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Nacional, p. A15

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem pessoas que "levianamente acusam os outros e depois não têm coragem" de admitir o equívoco - e recomendou ao povo que tenha cuidado com a imprensa. "Toda vez que vir uma notícia muito escandalosa, analise-a, leia duas vezes. Veja se tem verdade ali", ensinou o presidente, diante de 2 mil pessoas, na inauguração das obras de ampliação do Aeroporto de Uberlândia (MG). "Eu já cansei de ver no Brasil denúncias e mais denúncias, achincalhamento e, depois, não se prova nada e não acontece nada com quem acusou", prosseguiu o presidente.

O presidente referiu-se, também, à crise que atinge seu governo e o PT, dizendo que ela é "extremamente grave" e que é preciso "ter muita paciência" e não "se deixar levar pelo emocional". Afirmou que "quem está no posto de comando" não pode falar o que quiser. "Temos de contar até dez cada vez que temos de falar alguma coisa, para não causar nenhuma injustiça, nenhum transtorno."

Na sua fala, quase toda de improviso, ele disse ainda que os ataques à sua ética começaram depois que pesquisas apontaram que ele era "imbatível" em 2006. "Então, resolveram me atacar no que nunca deveriam ter me atacado porque quem me conhece sabe como eu sou", afirmou. "Do mesmo jeito que eu agia quando diziam que eu era imbatível, reajo agora, com tranqüilidade de que a gente tem de tomar decisões no momento certo, na hora certa."

Apesar disso, assegurou que não tem raiva. "Não fomos eleitos para ter raiva de quem não gosta de nós. Fomos eleitos para governar para 186 milhões de brasileiros, para quem gosta ou não gosta."

Nas cobranças que fez à imprensa, Lula mencionou casos de pessoas "crucificadas", como Alceni Guerra, ex-ministro da Saúde do governo Collor, e os donos da Escola de Base, em São Paulo. Alceni foi acusado de superfaturamento na compra de bicicletas para a pasta. "Demorou anos para aquele cidadão ser inocentado." No caso da Escola de Base, relembrou, "o dono foi execrado. Foi destruída a escola e a família, e depois de alguns anos não tinha (nada) absolutamente contra ele. Mas a família já estava destruída." Assim, "com a mesma justeza" que os que cometeram erros devem ser punidos, ele diz esperar que inocentes e acusados de forma leviana recebam pedido de desculpas.

Ao lado do governador Aécio Neves, um dos presidenciáveis do PSDB, Lula também falou dos adversários. "Os inimigos podem fazer o que quiserem. O Aécio sabe e eu sei que quem está no comando não pode falar o que quer."

E, voltando a falar de Juscelino Kubitschek, afirmou: "Os mais velhos se lembram do que os que hoje me atacam faziam com Juscelino. Tentaram cassá-lo duas vezes, dar golpe de Estado, tentaram matá-lo, inclusive. E Juscelino nunca perdeu a paciência. Passados alguns anos, ele perdeu as eleições, ganhou o Jânio Quadros que, pouco tempo depois, renunciou, denunciando forças ocultas. Depois veio João Goulart, que foi cassado. E eu não falei ainda do Getúlio que, por acusações não provadas, foi levado à morte."