Título: Serra cumprirá a promessa e vai até fim do mandato, diz Alckmin
Autor: Carlos Marchi
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Nacional, p. A16

Depois de dois dias em que lideranças do PSDB alçaram o nome do prefeito José Serra como potencial candidato tucano à presidência da República, o governador Geraldo Alckmin abriu o verbo ontem. Em entrevista à Rádio Jovem Pan, ele abandonou sua postura tradicionalmente contida e lembrou que Serra firmou um compromisso de não deixar a prefeitura paulista e cumprir o seu mandato até o fim: "Não vejo razão para não acreditar na palavra do prefeito", disse um Alckmin com postura de candidato. E ainda disse que Serra "foi eleito prefeito faz menos de um ano", deixando no ar a insinuação de que, para ser candidato, o prefeito teria de renunciar à maior parte do mandato. Alckmin só se rendeu a uma possível candidatura do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso: "Este é hors-concours. Se quiser ser candidato a presidente será, se quiser ser candidato a governador de São Paulo, será. E se não for candidato será o grande condutor desse processo, pela sua experiência, pelo seu espírito publico", salientou. Serra não quis comentar a declaração do governador.

Alckmin se disse contra o debate sucessório agora, por achar que a antecipação eleitoral sempre encurta os governos e dificulta a governabilidade. Mesmo assim, deixou claro que é pré-candidato pelo PSDB: "Eu ficarei muito honrado se tiver a oportunidade de trabalhar pelo Brasil, que está pronto para dar um salto de qualidade", assinalou.

Alckmin menosprezou os resultados das últimas pesquisas de opinião, afirmando que pesquisas muito antecipadas são "um retrato do passado", porque sempre dão realce a nomes que estão na memória do eleitorado. Para ele, a eleição começa para valer "quando muda o horário da novela, quando começa o horário do rádio e da televisão". E arrematou: "As grandes mudanças ocorrem nos últimos quinze dias de campanha".

DESINTERESSE

Alckmin rotulou o debate eleitoral antecipado como "não producente" e mencionou que a população não está interessada nesse tipo de debate: "Isso é uma discussão de políticos", diagnosticou. Segundo ele, hoje em dia as campanhas não precisam ser longas para mostrar os candidatos: "Com meios de comunicação tão rápidos, você fica conhecido com dez dias de televisão. Hoje o comício é eletrônico, é televisivo ou radiofônico", observou.

Alckmin entende que o amadurecimento do eleitorado aponta para a rejeição de candidaturas com caráter populista. "As últimas décadas mostraram que o Brasil não aceita salvador da pátria, nem de direita nem de esquerda, precisa ter é trabalho e eficiência", acrescentou. Para ele, eficiência não tem fórmula mágica: "É um conjunto de ações para desobstruir os gargalos do desenvolvimento".

O governador defendeu que o PSDB celebre alianças com outros partidos com quem tenha proximidade ideológica para as eleições de 2006, mas quer que esses acordos sejam feitos antes da eleição, para o eleitorado ficar conhecendo. Segundo ele, "no Brasil de hoje, com essa quantidade de partidos políticos, ninguém pode imaginar que vai governar sozinho".

OPERAÇÃO ABAFA

Alckmin disse não ter dúvidas de que há uma tentativa de "operação-abafa" em curso no Congresso. Segundo ele, "não importa se o nome é mensalão, semestrão ou pagamento único, o que tem de ser apurado é a falta de decoro parlamentar". Para ele, a agenda positiva, daqui por diante, tem duas vertentes: "apurar para valer, com firmeza e não deixar contaminar a economia".

Ele lembrou que a oposição ao governo Lula não colaborou para ampliar a crise: "A crise nasceu dentro do governo", disse. Segundo ele, o PT nunca entendeu que no regime democrático "quem é governo tem que governar bem, e quem é oposição tem que fiscalizar e apresentar alternativas". Alckmin lembrou que a estratégia do governo Lula foi cooptar uma parte da oposição e desidratar o resto. "O PSDB perdeu mais de vinte deputados", concluiu.