Título: Palocci defende o aperto monetário
Autor: Fernando Dantas
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

O ministro da Fazenda, Antônio Palocci, fez ontem uma vigorosa defesa do aperto monetário promovido pelo Banco Central (BC) desde setembro do ano passado, durante um seminário sobre metas de inflação, na sede do BC no Rio. Ele defendeu também o regime de metas de inflação, implantado em 1999: "Na comemoração do seu sexto aniversário, o regime de metas de inflação apresenta resultados inquestionáveis". Acossado por denúncias de corrupção na sua gestão como prefeito de Ribeirão Preto e de acesso privilegiado a empresas e pessoas como ministro, Palocci foi isolado do contato com a imprensa. De forma inédita, desde que os seminários anuais sobre metas de inflação foram iniciados há cinco anos, os repórteres foram barrados no auditório do BC.

Para Palocci, o "aquecimento substancial da atividade" em 2003 aconteceu numa "economia ainda convalescente", com investimento reduzido, e afetada pela contaminação da inflação do atacado pelo aumento do preço internacional das commodities. Nessa situação, ficou claro que havia risco de descumprimento das metas, e o BC iniciou a elevação da Selic. "As conquistas em termos de convergência da inflação para a trajetória de metas são inegáveis."

Ele rebateu com argumentos técnicos diversas críticas ao BC, como a de que as metas seriam demasiadamente ambiciosas, a alta dos preços administrados teria levado a um aperto monetário inútil, o Banco Central seria excessivamente conservador ou haveria um custo fiscal excessivo na alta da Selic.

Segundo Palocci, "com as quedas (recentes) na inflação no varejo e no atacado, o País está contratando antecipadamente perspectivas mais favoráveis para a inflação nos próximos anos", o que se deve ao "compromisso inabalável do Banco Central com a manutenção da inflaçao em nível compatível com a trajetória das metas". Para ele, em 2005, tanto a inflação no varejo como no atacado deve ficar nos níveis mais baixos desde 1998, último ano antes da flutuação do câmbio.

Numa única referência à crise política, o ministro da Fazenda disse ter certeza de que, no seminário sobre metas de inflação de 2006, um dos temas de debate será a solidez que a economia brasileira demonstrou "frente às incertezas políticas".

Palocci também enfatizou o papel da política fiscal e do câmbio flutuante na estabilidade da economia brasileira, junto com o regime de metas de inflação - um conjunto que chamou de "os três pilares". Ele disse que os superávits primários são definidos para reduzir a relação entre a dívida pública e o PIB no médio prazo, mas admitiu que essa queda, veloz em 2003 e em 2004, foi freada em 2005. Mas o ministro garantiu que "a dinâmica da dívida continua favorável", e observou que o consenso dos analistas prevê continuidade da queda nos próximos anos.

No mesmo seminário, o ex-economista-chefe do FMI, Kenneth Rogoff, disse que países com o histórico de calotes e hiperinflação do Brasil deveriam ter relação dívida/PIB abaixo do nível de 25% a 30%. Assim, a trajetória prevista pelo mercado, de queda para 46% apenas em 2009, é vista por Rogoff como arriscada, diante de riscos internacionais como crises nos Estados Unidos ou na China. Rogoff considerou decepcionante que o Brasil não cresça a 6% ou 7% ao ano diante de cenário internacional tão favorável e fez uma enfática defesa da independência do BC no Brasil.

Para Palocci, o desempenho das exportações deve-se à demanda externa, desoneração tributária, abertura de mercados e internacionalização das empresas. Já a valorização do câmbio é em parte explicada pela alta das matérias-primas, que tornou o País "mais rico em relação ao resto do mundo".