Título: Pela quarta vez consecutiva, IGP-M fecha mês com deflação
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

Pela quarta vez consecutiva, o Índice Geral de Preços-Mercado (IGP-M) fechou o mês em deflação. A taxa em agosto, divulgada ontem, foi de 0,65%, ante 0,34% em julho. O resultado ficou abaixo das estimativas do mercado e foi o menor resultado em mais de dois anos, desde junho de 2003 (-1%), provocado pela queda de preços no atacado, no varejo e na construção civil. "A deflação foi praticamente generalizada no IGP-M (de agosto)", afirmou o coordenador de Análises Econômicas da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Salomão Quadros. O período de coleta de preços do indicador, que serve como indexador para reajustes em contratos de aluguel, foi do dia 21 de julho a 20 de agosto. As projeções do IGP-M para agosto estavam entre - 0,62% a - 0,45%.

O economista da FGV não excluiu a possibilidade de uma quinta deflação consecutiva, em setembro, embora não interprete as quedas sucessivas do indicador como sinal de recessão. Outros indicadores macroeconômicos, como os de produção industrial, apresentam sinais positivos, segundo ele.

O IGP-M acumula taxa de 0,75% no ano e de 3,43% nos últimos 12 meses - a menor taxa acumulada desde janeiro de 1999. "É uma boa notícia para o consumidor", disse, lembrando que a taxa de 12 meses do índice serve como indexador para vários preços administrados. "E ainda tem espaço para reduzir mais."

Na prática, a taxa acumulada em 12 meses até agosto ainda inclui resultados acima de 1%, dos últimos meses de 2004. Para o economista da Fecomércio-RJ João Carlos Gomes, o IGP-M caminha para fechar o ano abaixo de 2%, sinal de "desempenho positivo para 2006 e o início de um ciclo virtuoso, com inflação baixa e queda nos juros".

Em agosto, os preços do atacado caíram 0,88%, ante queda de 0,65% em julho. O atacado é o setor de maior peso na formação do IGP-M e foi influenciado principalmente por fatores setoriais, na avaliação de Quadros. "O câmbio, que influenciou mais as três deflações anteriores, perdeu força em agosto", explicou.

Entre os fatores setoriais que reduziram a inflação no atacado estão as quedas de preços de ferro, aço e derivados (2,76%); combustíveis e lubrificantes (0,13%) e produtos agrícolas de peso, como soja (1,77%); arroz em casca (2,97%) e bovinos (1,04%). No caso do setor siderúrgico, foi a queda mais intensa da história dos IGPs da FGV.

No varejo, os preços caíram 0,32% em agosto, ante alta de 0,12% em julho - a deflação mais intensa desde setembro de 1998. Houve recuos nas variações de preços de alimentação (0,67% para 1,34%); e de habitação (de 0,70% para 0,11%).

Para o economista da FGV André Braz, os preços ao consumidor podem continuar em queda. "O atacado mostra espaço para mais desaceleração. A possibilidade de continuar no patamar atual é grande", afirmou, lembrando que as quedas podem ser repassadas aos preços ao consumidor no futuro.