Título: Katrina assusta mercado e petróleo sobe ainda mais
Autor: João Caminoto
Fonte: O Estado de São Paulo, 31/08/2005, Economia & Negócios, p. B8

O furacão Katrina perdeu força ontem, mas continuou a devastar os mercados de petróleo, que fecharam em níveis recordes, pois há o temor de que os estragos sejam maiores. "Acho que os prejuízos provavelmente serão muito pior do que qualquer um esperava", disse Michael Guido, diretor do Banco Société Générale. "Isso está no mesmo nível de um grande ataque terrorista contra uma refinaria - talvez até pior. Quem sabe quando as coisas vão voltar ao normal? É provável que não leve semanas, provavelmente levará meses." Na Bolsa Mercantil de Nova York (Nymex), os contratos de petróleo para outubro fecharam em US$ 69,81 o barril, avanço de 3,88%. A máxima do pregão foi US$ 70,85. Os contratos de gasolina com entrega para setembro, que vencem hoje, fecharam em US$ 2,4745 o galão, alta de 20,09%.

Em Londres, na Bolsa Internacional de Petróleo (IPE), os contratos de petróleo Brent para outubro fecharam em US$ 67,57 o barril, alta de 4,14%.

Mas muitos analistas ressaltam que, se for levada a inflação, o recorde continua ser o alcançado em 1980, o equivalente a cerca de US$ 90 por barril

Informações completas sobre as refinarias na Costa do Golfo do México permanecem escassas, pois companhias ainda não conseguiram fazer a inspeção de suas instalações. A Citgo Petroleum apresentou um pedido ao Departamento de Energia requisitando um empréstimo de 500 mil barris das reservas estratégicas dos Estados Unidos. O porta-voz do departamento, Craig Stevens, informou que o pedido está sendo analisado.

TEMORES

Segundo especialistas, o Katrina não podia ter chegado em pior momento, tanto para os mercados do petróleo quanto para os os consumidores.

A elevada demanda nos Estados Unidos e em países como China e Índia, unida à pouca capacidade da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) e de outros países independentes de aumentarem a produção, faz os mercados viverem com especial inquietação qualquer interrupção imprevista de produção.

Com a passagem do Katrina pelo Golfo do México aumentou o medo de que a atividade das refinarias e a chegada de barris sejam alteradas por um longo tempo e, com isso, se desequilibre ainda mais a relação entre a oferta e a procura.

As últimas estimativas do Serviço de Gerenciamento de Minerais (MMS), uma agência do Departamento do Interior dos Estados Unidos que administra a exploração petrolífera no Golfo do México, indicam que a produção de petróleo nesta área está paralisada em 95,2%, e a de gás natural, em 88%.

Outro aspecto preocupante é a suspensão das operações no terminal de descarga situado a cerca de 30 km do litoral da Louisiana, o Loop. Essa estação em alto mar é a única nos EUA capaz de receber superpetroleiros e é o ponto de entrada de aproximadamente um milhão de barris de petróleo diários, cerca de 11% das importações que chegam ao mercado americano.

Em Londres, o presidente da Petrobrás, José Sérgio Gabrielli, afirmou que a estatal deve reajustar os combustíveis no mercado brasileiro quando ficar claro um novo nível no mercado internacional. Ele admitiu, porém, que se a intensa volatilidade persistir, os combustíveis serão ser ajustados mesmo assim caso comecem a afetar a rentabilidade da empresa. Gabrielli participou de um encontro com um pequeno grupo de investidores no qual apresentou o plano de negócios da Petrobrás para os próximos cinco anos.