Título: Tarso deve deixar disputa pela presidência do PT
Autor: Mariana Caetano e Ana Paula Scinocca
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A6

O presidente interino do PT, Tarso Genro, deverá oficializar na segunda-feira sua saída da disputa pela presidência do partido pelo Campo Majoritário. As eleições estão marcadas para o próximo dia 18. Com a confirma ção da desistência, a vaga deve ser ocupada pelo atual secretário-geral, deputado Ricardo Berzoini (SP). O Campo Majoritário negocia agora com Berzoini uma espécie de "programa básico de gestão" do grupo para o PT. Trata-se de uma tentativa de evitar descolamento do candidato com o Campo - como ocorreu com Tarso Genro - e de modulação das críticas à política econômica e da necessidade de refundação do partido.

Ontem, Tarso se mostrou relaxado, como se já tivesse tomado a decisão de deixar a disputa. E Berzoini, que pela manhã sequer admitia a hipótese de entrar na corrida eleitoral, passou o dia em reuniões com integrantes do Campo. À saída, emitiu sinais de que vai entrar na briga pelo comando da sigla. "Meu candidato é Tarso Genro, que apoio com entusiasmo. Mas é óbvio que se ele não mantiver sua candidatura temos de pensar em outro nome. Não coloco a priori meu nome como opção. Nem rejeito a hipótese porque quero discutir coletivamente com o Campo Majoritário."

Descontraído, Tarso, porém, adotou a linha do suspense sobre seu futuro. Avisou que ainda aguarda uma definição do Campo sobre a natureza da chapa que disputará o Diretório Nacional. "O que eu combinei com os companheiros é que, durante o fim de semana, eu faria uma série de discussões. Daí, provavelmente, eles é que têm que dar um prazo, não eu", disse Genro.

O dirigente petista garantiu que, se for candidato e eleito presidente do PT, não disputará nenhuma eleição no período de mandato, que é de três anos. Ele insistiu que não pretende ser presidente do PT para atender um projeto pessoal. E sinalizou com um recado ao ex-ministro-chefe da Casa Civil, deputado José Dirceu (SP), com que trava disputa pelo comando da legenda. "Estou me disponibilizando para um trabalho sacrificante e difícil. Para mim, é irrelevante qual vai ser o resultado, porque a centralidade do presente é tão importante para o partido que, quem estiver pensando na próxima jogada, na verdade, está pensando em si mesmo e não no projeto partidário", afirmou. "Por exemplo, poderia estar pensando - se eu tivesse algum problema de manutenção do mandato - que ia usar o partido para defender o mandato, mas não é o caso concreto", prosseguiu.

Dirceu enfrenta processo de cassação na Câmara e tem dito que prefere "dar um tiro na cabeça" a deixar a chapa do Campo, como quer Tarso. Bem-humorado, Tarso brincou dizendo ter medo de que o tiro fosse para ele. Questionado sobre a frase de Dirceu, afirmou que ela significa "um risco muito grande". "Mas duvido que ele faça. Isso aí é, na verdade, eu diria, uma metáfora nervosa."