Título: 'Lula não quer nada com trabalho'
Autor: Marcos Rogério Lopes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A10

Alternando vários tons em suas declarações, o presidente do PFL, Jorge Bornhausen, fez críticas pesadas ontem ao presidente Lula e ao PT. Duro, afirmou que "Lula não é habituado a trabalhar e, agora, com a crise, não quer mais nada com trabalho". Analítico, avaliou que o presidente está em campanha "desde o primeiro dia do governo" e, ultimamente, em vez de dar explicações, tem fugido de suas responsabilidades com "encenações desnecessárias". Por fim, irônico, completou: "Mas graças a Deus vamos ficar livres dele, porque ele não chega no segundo turno." Bornhausen esteve ontem de manhã no Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), em uma reunião com cerca de cem empresários paulistas na qual o tema era reforma política, mas o destaque foram as declarações do senador contra o governo. Questionado por um dos convidados como se sentia diante do momento que passa o País, respondeu: "Não estou triste, nem desencantado, pelo contrário. Estou encantado porque vamos nos ver livre dessa raça durante pelo menos 30 anos", disse, sendo aplaudido pela maior parte dos presentes.

O senador não voltou atrás momentos depois ao explicar ao Estado a quem se referia quando usou o termo raça. "Ao Lula e ao pessoal do PT que está no governo." E foi além ao afirmar que considera a carreira política do presidente praticamente encerrada. "Acho que ninguém consegue retornar depois de ter permitido esse mar de lama no País."

O erro de Lula, acredita Bornhausen, foi dar a subordinados atribuições que ele, como presidente da República, deveria exercer. "O forte dele é delegar, não trabalhar", provocou. Assim, conforme sua análise, teria surgido o mensalão, maneira "encontrada pelo PT de cooptar parlamentares para dar sustentação ao governo". "A história do mensalão corria à boca pequena no Congresso Nacional, o que não se tinha era prova. E agora as provas estão aparecendo."

REFORMA POLÍTICA

Para o presidente do PFL, o governo fez de tudo para adiar a aprovação da reforma política - que definiria, por exemplo, regras mais rígidas de fidelidade partidária.

Logo no início do governo Lula, em janeiro de 2003, contou ter se encontrado com o então presidente do PT, José Genoino, para falar sobre o texto da reforma que já havia passado pelo Senado e faltava ser apreciado pela Câmara. "Disse a ele que, se entrassem com pedido de urgência, em março estaria aprovado."

Porém, diz o senador, o PT preferiu criar uma comissão para discutir o assunto, atrasando a aprovação. "Aí vi que começou um movimento intenso de troca-troca (de legendas) de deputados e senadores", afirmou Bornhausen. "O governo tinha cooptado partidos para sua base e estava trazendo deputados da oposição. Não tinha nenhum interesse em falar em reforma política."

Por fim, bem-humorado, comentou que o mensalão teve um lado positivo ao "purificar o PFL", tirando de seu partido pessoas "não tão corretas". O PFL elegeu 83 deputados e tem 58 atualmente.