Título: Boatos sobre saída de Palocci voltam e irritam governo
Autor: Christiane Samarco e Cida Fontes
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A11

BRASÍLIA - A possibilidade de divulgação de novas denúncias envolvendo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, sustentou ontem uma onda de boatos sobre sua saída do governo. Os boatos circularam no mercado financeiro, em gabinetes do Palácio do Planalto e de parlamentares da oposição que alimentam o desejo de convocar o ministro para prestar informações sobre a acusação de ter intermediado recursos da empresa Leão Leão ao PT, durante o período em que foi prefeito de Ribeirão Preto. A intensidade dos rumores irritou o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP). "Esse boato é uma total irresponsabilidade", reagiu. Pela manhã, ele conversou com o ministro e disse estar convencido de que Palocci não se afastará da Fazenda. Segundo Mercadante, além de o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazer questão da presença de Palocci no comando da economia, o próprio ministro também mantém o desejo de continuar no posto.

"Apesar da inversão total de valores e da falta de respeito à presunção da inocência e do ônus da prova, que cabe ao acusador, Palocci tem compromisso com o projeto do governo e sabe que essas acusações e boatos são parte da vida pública."

Mercadante disse que a origem dos boatos está no fato de que ficaram frustrados aqueles que esperavam que o advogado Rogério Buratti, ex-assessor de Palocci na prefeitura de Ribeirão Preto, fizesse revelações que incriminassem o ministro. Agora, essas pessoas, segundo ele, sustentam boatos sobre novas denúncias a qualquer hora.

"Quero pedir aos especuladores que deixem a economia em paz", afirmou. "Não podemos ficar à mercê de uma falsa expectativa de que, a qualquer instante, surgirão coisas que ninguém sabe o que são. É preciso pôr um fim ao vale tudo para atacar o governo e o PT."

A indignação de Mercadante também foi observada nos gabinetes do Planalto. Assessores de Lula admitem que o ministro enfrenta um momento de constrangimento, mas garantem que ele não será a "figura do governo que a oposição quer sangrar". No Palácio do Planalto a posição de Lula é a de que não há qualquer prova do envolvimento do ministro no recebimento de propina. E isso é suficiente para que Palocci seja mantido no cargo. Para esses interlocutores, depois da tensão da semana passada, o governo chegou ao final dessa semana em "um clima mais ameno". E creditam ao depoimento de Buratti a melhora do ambiente político. Para todos, se de um lado Buratti confirmou as denúncias - de que Palocci recebia mensalmente R$ 50 mil da empresa Leão Leão -, por outro não apresentou fato novo e sequer provas.

Os boatos contra Palocci baixaram de tom ao final do dia, mas a apreensão continua, como admitiu o senador Tião Viana (PT-AC). Ele disse que conversou ao telefone com Palocci, que agradeceu o apoio manifestado na reunião de ontem da CPI dos Bingos. "O ministro me disse que está tranqüilo, seguro e em paz na condução do cargo", contou Viana. O clima no Senado, segundo o senador, não é de hostilidade em relação ao ministro. Reconheceu que, embora a situação de Palocci esteja recuperada - levando-se em conta a entrevista do ministro negando seu envolvimento no recebimento de propinas -, esse clima de tranqüilidade está condicionado ao não surgimento de novas denúncias. Outro senador do PT, Flavio Arns (PR), disse que a honra de Palocci não está afetada. "A intenção dos senadores do PSDB e do PFL (na CPI, ontem) não era a de atingir o ministro."