Título: Esquema nos Correios teria beneficiado PMDB e PTB
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A12

BRASÍLIA - Na confissão que fez ao Ministério Público Federal, o ex-chefe de departamento dos Correios Maurício Marinho acusa políticos do PMDB e do PTB de terem sido beneficiados pelo esquema de corrupção montado na estatal. Ele conta que fornecedores dos Correios financiaram e produziram material para campanhas eleitorais dos dois partidos no ano passado. Em troca, mantiveram seus contratos e tiveram pedidos atendidos. O depoimento mostra, também, que apadrinhados do PMDB, PTB, PT, PSDB e PDT comandavam os esquemas de cobrança de propina. Marinho relatou aos procuradores que Arthur Washeck, dono e representante de várias empresas com contratos nos Correios, confidenciava a ele ter bancado campanhas do PMDB e do PTB.

De acordo com o suposto relato de Washeck a Marinho, o dinheiro era repassado em espécie aos diretores Antônio Osório (PTB), Carlos Eduardo Fioravante (PMDB) e ao próprio presidente da estatal, João Henrique Sousa (PMDB).

Segundo o ex-chefe dos Correios, os diretores da estatal, incluindo João Henrique, o pressionaram nas eleições de 2004 para que ajudasse nas campanhas. Marinho explica que pediu a fornecedores que confeccionassem materiais de campanha, como santinhos, cartazes, camisetas e bonés.

O ex-chefe daestatal afirma que João Henrique determinou o envio de material para uma campanha em Rondônia. E conta que conseguiu a confecção de materiais para nove campanhas no Sul da Bahia, a pedido de Antônio Osório. Segundo Marinho, as empresas acharam "normais" os pedidos.

INFLUÊNCIA

No depoimento, Marinho explica que cuidou dos pleitos menores, mas diz saber que grandes empresas colaboraram em campanhas de maior expressão, "principalmente do PT e PMDB".

O ex-chefe dos Correios relata que deputados do PTB fizeram tráfico de influência, levando empresários que tinham interesses nos Correios para encontrá-lo. Marinho afirma que beneficiava as empresas ao incluí-las nas pesquisas de preços para futuras licitações. Os "acertos" eram feitos numa etapa posterior, próxima à assinatura dos respectivos contratos.

O deponte incluiu no esquema o diretor de Operações da estatal Maurício Madureira. Segundo Marinho, Madureira foi indicação do deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), quando Airton Dipp, também do PDT, era presidente da estatal, na transição do governo Lula. Mattos é integrante da CPI dos Correios. O Estado deixou recado no celular do deputado explicando o teor da reportagem, mas não houve retorno.