Título: Casa Civil recomenda fim dos saques na boca do caixa
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A13

BRASÍLIA - A Casa Civil solicitou ao Tesouro Nacional que reduza ou acabe com a necessidade de saques na boca do caixa e manuseio de dinheiro vivo por parte dos servidores que usam cartão de crédito corporativo. Dois dias depois de o Tribunal de Contas da União (TCU) ter aprovado auditoria nos gastos com cartões da Presidência, a ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, informou que foi o próprio Tesouro que criou restrições para o pagamento de despesas. Motivo: exige que o portador do cartão saque recursos várias vezes por dia, dependendo do valor a ser pago, para quitar contas. Dilma propõe que todas as faturas sejam quitadas exclusivamente por cartão. O limite para saque diário na boca do caixa é de R$ 5 mil, mas o servidor só pode retirar até R$ 1 mil de cada vez. Desde a posse do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, até o último dia 8, os gastos com cartões corporativos consumiram R$ 20.377.559,27. Planilhas apresentadas ontem pela Casa Civil indicam que quase 70% das despesas feitas pela Presidência de janeiro deste ano até agora foram com hospedagem e veículos.

As justificativas para o aumento dos gastos com cartão corporativo em relação ao governo anterior são duas: maior número de viagens presidenciais no Brasil e exterior e "mudança no perfil familiar" do presidente, que tem mais filhos e exige mais seguranças.

A chefe da Casa Civil negou com veemência que os cartões sejam usados para pagar contas pessoais do presidente e da primeira-dama Marisa Letícia. "Não só não houve pagamento de roupa da Daslu como de nenhuma Casa Tabajara da vida", afirmou Dilma. "Estamos falando isso no sentido de preservar a verdade, porque está havendo distorção dos fatos."

A ministra destacou que os cartões são usados para quitar despesas de pequeno vulto, como material de escritório, pequenos consertos, além de gastos com recepção a chefes de Estado, hospedagem e locação de veículos para o presidente e sua família.

"Achar que o cartão introduziu grau de descontrole absoluto das contas da Presidência é um absurdo", protestou Dilma. "O que precisamos é aperfeiçoar sua metodologia de uso."

Dilma estranhou a nova auditoria pedida pelo TCU, argumentando que "não há sigilo" envolvendo informações referentes a cartões, extratos ou notas fiscais, já que, por determinação legal, todas essas despesas estão à disposição do tribunal e de órgãos de controle interno. Na prática, a auditoria é quebra de sigilo nas operações da Secretaria de Administração da Presidência e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin). "Não há em lugar nenhum do mundo divulgação dos gastos do presidente e da segurança que o cerca", observou.

Pelos cálculos da Casa Civil, valores sacados na boca do caixa para pagamento de faturas - muitas com locação de veículos - foram reduzidos de 41% em 2004 para 25% neste ano (até este mês) por causa da compra de veículos pela Presidência.