Título: Cartões do Planalto têm notas frias
Autor: Diego Escosteguy
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A13

BRASÍLIA - Notas fiscais da Presidência revelam que o Palácio do Planalto bancava com cartões de crédito corporativos gastos que variavam de champanhe e vinho para o ex-ministro Luiz Gushiken a chuveiros e ralos para o banheiro do presidente Lula na Granja do Torto. Também há casos de notas fiscais frias. Há quatro notas fiscais de R$ 732 emitidas pela FR Comércio, que registram a suposta compra de cartuchos para impressora. O problema é que, no número de telefone indicado pela nota, o dono da empresa, que não quis se identificar, afirma que nunca passou recibo para a Presidência. Apenas teria "repassado as notas a um amigo".

Os documentos estão anexados ao processo do Tribunal de Contas da União (TCU) que investiga a utilização dos cartões. A CPI dos Correios também começou a investigar a prática, considerada pouco ortodoxa por especialistas, porque poderia abrir brechas para burlar a Lei de Licitações. Ontem, o material chegou ao senador Álvaro Dias (PSDB-PR), da CPI.

O motivo de tanto rebuliço é a resistência da Presidência em tornar públicos os gastos. Hoje, eles são uma caixa-preta de R$ 9 milhões - valor do total gasto com cartões desde o começo do governo Lula. As notas que chegaram ao TCU são uma amostra do que foi gasto com eles.

JANTAR

Uma delas, emitida pelo Hotel Holiday Inn, em São Paulo, se refere a jantar de Gushiken de 13 de junho de 2004. A refeição com "vinhos e champanhe", no Restaurante Carnau, custou R$ 29,16. No mesmo dia, o hotel registra outros dois jantares do ex-ministro da Secom.

Em 23 de maio de 2004, Gushiken registrou-se no Gran Meliá, em São Paulo. Lá, os gastos foram maiores. Em três dias, deixou R$ 1.254,83.

A assessoria de Gushiken informou que o ministro bancou do próprio bolso as despesas com bebidas, apesar da nota. De acordo com a sua assessoria, o jantar teria sido com "representantes da mídia".