Título: Após denúncia de Buratti, CPI mira caso do lixo em São Paulo
Autor: Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Nacional, p. A16

BRASÍLIA - A CPI dos Bingos decidiu investigar as principais empresas que operam a coleta de lixo de São Paulo depois que ficou comprovada ligação da Leão Leão, de Ribeirão Preto, com o esquema de arrecadação ilegal do PT. O senador Romeu Tuma (PFL-SP) disse que essa investigação se tornou necessária. Para não partidarizar a investigação, Tuma proporá à CPI, na próxima semana, a quebra do sigilo bancário, fiscal e telefônico das três maiores empresas de lixo que atuam no Estado. As contas da Leão Leão, conforme lembrou, já foram abertas pela comissão.

"Não podemos deixar de investigar um setor que, pelo que temos acompanhado, tem sido largamente utilizado como fonte de recursos do caixa 2", alegou. No caso do PT, o senador suspeita que o esquema não é novo. Em conversa que teve quinta-feira com Rogério Buratti, antes de seu depoimento, o senador disse ter ouvido dele informações que representam "indícios" de que operações semelhantes às que ocorreram em Ribeirão também foram feitas na cidade de São Paulo.

"Mesmo no depoimento, ele chegou a declarar que a Leão Leão não entrava ali porque não tinha como disputar com as grandes empresas", lembrou. Na sua avaliação, os dados obtidos pela CPI até agora deixam claro quais seriam os alvos dos petistas para arrecadar dinheiro. São quatro fontes: bingos, jogos eletrônicos, coleta de lixo e extorsão a empresas.

"No caso do lixo, há facilidades porque ninguém vai conferir se foi feita a coleta de 100 ou de 50 toneladas nem vai checar se a varrição se estendeu a 10 ou 100 metros", explicou.

O relator da comissão, senador Garibaldi Alves (PMDB-RN), concorda com Tuma. "Acho que esse setor (lixo) é muito aproveitado para arrecadação ilegal", afirmou. Para o relator, o depoimento de Buratti deu várias pistas sobre o esquema patrocinado pelas empresas de coleta de lixo. "Ele deixou claro que a coisa não se limitava à área de Ribeirão, mas que chegava à cidade de São Paulo", informou.

Cópias de grampos telefônicos enviados pelo Ministério Público de São Paulo à CPI dos Bingos mostram que a ligação de Buratti com as empresas de coleta de lixo é bem maior do que ele deu a entender. As conversas revelam esquemas de fraudes que vão desde a alterações na licitação até mesmo a negociatas no Judiciário.

Em uma das conversas gravadas, um homem não identificado fala a "Marcelo" - aparentemente um funcionário da Leão Leão - que determinadas empresas, aparentemente de fachada, vão entrar na Justiça para chamar a atenção sobre pontos do edital e, assim, desestimular os concorrentes a entrarem na disputa. Também foram gravadas conversas sobre a negociação de notas frias e sobre a queixa de pessoas envolvidas no esquema que não receberam o cheque combinado "no tempo e no valor combinado".