Título: Dívida sobe de novo e vai a R$ 971 bi
Autor: Isabel Sobral
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Economia & Negócios, p. B3

BRASÍLIA - A dívida líquida do setor público brasileiro voltou a subir em julho, atingindo a marca dos R$ 971,75 bilhões, o equivalente a 51,3% do Produto Interno Bruto (PIB). Em junho, a dívida estava em R$ 965,98 bilhões, 51% do PIB. O resultado da dívida como proporção do PIB contrariou as previsões otimistas do Banco Central de que a dívida subiria em reais, mas ficaria no mesmo nível em termos de PIB. A relação entre a dívida pública total e a evolução do PIB é um dos indicadores considerados mais importantes por investidores e analistas para avaliar a "saúde" da economia de um país. Por isso, o governo tem tentado estabilizar essa comparação por meio da economia de recursos públicos (superávit primário) para quitação de parte dos juros e pela mudança de perfil dos títulos públicos vendidos ao mercado.

Entretanto, para o fim de agosto, as projeções oficiais do Banco Central apontam para uma nova elevação que colocam a dívida no nível de 51,5% do PIB. O Banco Central também espera que esse nível se mantenha no fim de 2005.

O chefe adjunto do Departamento Econômico do Banco Central, Luiz Malan, explicou ontem que, apesar do aumento, essa deterioração da relação da dívida com o PIB foi, em parte, provocada pela redução da inflação, que alterou o valor em reais do PIB. "Há um efeito importante do comportamento da inflação", afirmou Malan.

O arrocho na taxa básica de juros (Selic), que vem sendo mantido pelo Comitê de Política Monetária (Copom), levou o Índice Geral de Preços - Disponibilidade Interna (IGP-DI), usado para corrigir o PIB, a apresentar deflação no mês passado. Em razão disso, o valor das riquezas totais produzidas no País (ou PIB) naquele período acabou sendo reduzido. Assim, a expectativa do Banco Central é que esse efeito se repita em agosto já que a taxa Selic permanece em 19,75% ao ano.

IMPACTO DO CÂMBIO

Malan explicou que no mês passado o crescimento da dívida total refletiu apenas a correção dos juros, já que não houve reconhecimento de novos débitos nesse período. Houve, ainda, um menor pagamento de juros pelo setor público em comparação com junho. Foram pagos R$ 12,1 bilhões em juros no mês passado, ante R$ 15,2 bilhões no mês anterior.

Além do enorme superávit primário de R$ 8,8 bilhões que ajuda a controlar a dívida pública, o técnico esclareceu que outros dois fatores contribuíram para a menor conta dos juros. O primeiro foi o impacto positivo da valorização do dólar em relação ao real (3,33%) de um mês para o outro sobre créditos que o banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) tem a receber de exportadores. O câmbio também teve efeito favorável ao governo porque a dívida do Tesouro corrigida pelo dólar ficou mais barata.

O efeito deflacionário do IGP-DI também ajudou os governos estaduais e municipais a pagarem à União menos juros no mês de julho, já que é esse índice que corrige as dívidas renegociadas com o governo federal.

Os Estados pagaram R$ 927 milhões em juros, ante R$ 1,1 bilhão no mês anterior. Os municípios reduziram a parcela de juros de R$ 844 milhões para R$ 666 milhões, na mesma comparação.