Título: O financiamento imobiliário
Autor:
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Economia & Negócios, p. B2

Entre janeiro e julho deste ano, os financiamentos imobiliários contratados com recursos das cadernetas de poupança pelos agentes do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE) aumentaram 60,2% em relação ao mesmo período de 2004, passando de R$ 1,594 bilhão para R$ 2,554 bilhões. E, no primeiro semestre, 227,5 mil mutuários sacaram R$ 1,93 bilhão do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) para operações de compra, quitação, amortização ou abatimento do valor das prestações de empréstimos do Sistema Financeiro da Habitação (SFH), montante que deverá atingir R$ 4 bilhões até dezembro. Há, portanto, um aumento dos recursos destinados às operações imobiliárias tanto pelos bancos privados como pela Caixa Econômica Federal (CEF), que estimularão a construção civil e as contratações de mão-de-obra num ano em que se reduziu o ritmo de criação de novos empregos.

Apenas em julho foram financiadas, pelo SBPE, 5.573 unidades, ante 3.965, em junho e 4.378 em julho de 2004. Apesar do aumento, os números ainda são modestos, pois o déficit habitacional é estimado em 6 milhões de habitações e a oferta de unidades é pequena para a população de baixa renda.

O mercado de imóveis depende da oferta de crédito da CEF, maior financiadora e gestora dos recursos do FGTS. No primeiro semestre, R$ 1,382 bilhão do FGTS foi sacado pelos trabalhadores com carteira assinada para aquisição de imóvel próprio, volume que correspondeu a mais de 60% do total empregado para essa finalidade em todo o ano de 2004, de R$ 2,165 bilhões. Isso indicou um aumento das operações com recursos do Fundo.

O que se espera é que a CEF adote uma posição mais ativa nos empréstimos com base nas cadernetas de poupança, como fez em julho, quando concedeu créditos com esse lastro no montante de R$ 620 milhões. A CEF anunciou redução de juros e a disposição de financiar até 100% do valor do imóvel, o que favorecerá as transações.

O conjunto da atividade imobiliária foi favorecido, em junho, pela Medida Provisória nº 252 (MP do Bem), que reduziu ou eliminou a tributação sobre o lucro imobiliário, estimulando a compra e venda de imóveis da classe média alta. Falta, no entanto, aumentar a oferta do número de imóveis destinados aos estratos inferiores da classe média, onde se concentra a maior parte do déficit de moradias, uma vez que, hoje, não está havendo falta de recursos. Um dos efeitos mais importantes da dinamização do setor imobiliário é a geração de empregos, que ainda está retraída, pois, no mês passado, o Ministério do Trabalho constatou a criação de 117.473 vagas, ante 202.033 em julho de 2004.