Título: Indústria vê melhora no longo prazo e vai investir R$ 45,5 bi
Autor: Alessandra Saraiva
Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Economia & Negócios, p. B4

RIO - Mesmo com juros altos e crise política, os empresários da indústria da transformação apostam em melhora no cenário de longo prazo e elevam seus investimentos em 2005. É o que mostrou a 156.ª Sondagem Conjuntural da Indústria da Transformação - Quesitos Especiais, divulgada ontem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV). Segundo o levantamento, a indústria programa investimentos totais de R$ 45,5 bilhões neste ano, 18,2% acima do registrado em 2004. Os bons resultados são puxados por compra de máquinas e equipamentos, destinados a atender à demanda forte nas exportações, e por bens duráveis - setor beneficiado pelo aumento na oferta de crédito. A pesquisa foi realizada entre os dias 28 de junho e 28 de julho. O montante total de investimentos programados para esse ano abrange 710 companhias, mas só 676 empresas concordaram em dar informações detalhadas de aportes em 2004 e 2005. A partir deste último número, a FGV apurou que 59,6% das empresas entrevistadas planejam investir mais neste ano, ante 2004. Em contrapartida, 40,4% estimam investir menos.

O levantamento tem como base a sondagem completa da indústria, anunciada no fim de julho e referente ao segundo trimestre, que apurou pessimismo entre o empresariado, preocupado com a política monetária apertada e a turbulência política. Mas o cenário detectado pela sondagem no mês passado era relacionado mais a um período de curto prazo, segundo avaliação do coordenador de sondagens conjunturais da FGV, Aloisio Campelo: "Quando o empresário pensa em investir, ele pensa em um horizonte de longo prazo (...) O desânimo no curto prazo não afetou a decisão de investimento".

Embora tenha destacado que, pela análise dos investimentos, os industriais não acreditam em contágio da crise política na economia, e confiam em queda dos juros no longo prazo, Campelo admitiu que o levantamento foi feito antes da turbulência no cenário político atingir a imagem do ministro da Fazenda, Antônio Palocci.

Ao comentar a análise anunciada ontem, Campelo destacou os bons desempenhos de dois setores básicos da indústria da transformação: bens intermediários e bens de consumo. No caso de bens intermediários, que incluem os setores de papel e celulose, química e metalurgia, 60,4% das empresas entrevistadas planejam aumento dos investimentos neste ano ante 2004. Esses recursos estão sendo usados para compra de máquinas e equipamentos. "Os setores estão adquirindo equipamentos para atender à crescente demanda das exportações."

AJUDA DO CRÉDITO

No caso dos bens de consumo, no qual estão incluídos os bens duráveis, como automóveis e geladeiras, 61,6% das empresas pesquisadas no setor planejam investir mais neste ano ante 2004. Campelo lembrou que houve um aumento expressivo na oferta de crédito em 2005, o que impactou positivamente as vendas de bens de consumo. A maior demanda teria estimulado os empresários a elevar os investimentos, explicou o economista. O setor de bens de capital também registrou resultado positivo, com 51,7% das companhias da área informando que vão investir mais em 2005.

Entre as quatro principais categorias da indústria da transformação, só uma não teve resultado muito favorável: a de material de construção: 51,7% das companhias estimam aumento de investimento, mas 48,3% disseram que vão investir menos em 2005.

O porcentual é muito elevado quando comparado com as parcelas de empresas, em outros setores, que disseram o mesmo quando questionadas sobre o assunto, como bens de consumo (38,4%), bens intermediários (39,6%) e bens de capital (44,6%). "Houve realmente uma desaceleração na construção civil", disse Campelo.