Título: Fase de juro baixo pode estar no fim, diz Greenspan
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Fonte: O Estado de São Paulo, 27/08/2005, Economia & Negócios, p. B8

WASHINGTON - O presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Alan Greenspan, fez ontem um alerta quanto à possibilidade de o período de juros baixos e riscos pequenos para os investidores terminar nos Estados Unidos. "A História não tem sido condescendente após o término dos períodos prolongados de riscos baixos", afirmou, em conferência em Jackson, Wyoming. Referindo-se às circunstâncias do mercado americano, no qual muita gente tem aplicado em ações e imóveis, contando com os juros baixos, Greenspan advertiu que a situação pode mudar, se as condições econômicas se deteriorarem. "O que se percebe como uma liquidez abundante, pode rapidamente desaparecer. Nossas previsões (do Fed) e a nossa política são impulsionadas cada vez mais pelas alterações nos preços dos ativos", afirmou.

Os juros baixos levaram milhões de americanos a comprar imóveis ou renovar a hipoteca da casa própria, o que criou uma bolha imobiliária, com os preços disparando. Para a maioria dos analistas, essa bolha está a ponto de estourar. Se isso se confirmar, muitos investidores americanos poderiam repatriar o dinheiro aplicado em países emergentes para se adequarem à nova situação. "Depois desse comentário de Greenspan, é claro que o Federal Reserve continuará aumentando o juro básico, esperando levar o mercado habitacional a um pouso suave", comentou Drew Matus, economista do Lehman Brothers.

De acordo com Greenspan, o protecionismo comercial e os crescentes déficits dos Estados Unidos representam uma ameaça à vitalidade da economia do país no longo prazo. "O protecionismo comercial e a nossa relutância em colocar a política fiscal num nível mais sustentável estão ameaçando aquilo que pode ser o nosso mais valioso ativo político: a crescente flexibilidade da nossa economia, que reforçou a nossa extraordinária resistência a choques".

Segundo ele, a manutenção da flexibilidade econômica é especialmente importante para os EUA superarem dois desequilíbrios econômicos - o déficit em conta corrente e o boom imobiliário. Ele disse que a estabilidade econômica da última década parecia estimular os investidores a aceitarem menos compensações pelos riscos.