Título: 'Impeachment do Severino vai ficar para o 2.º tempo'
Autor: Christiane Samarco
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A7

O deputado Fernando Gabeira (PV-RJ) insistiu ontem na idéia de iniciar um movimento pela destituição de Severino Cavalcanti (PP-PE) da presidência da Câmara. "Sou o anti-Severino", diz Gabeira (PV-RJ). Ele não tem dúvidas de que há espaço político para discutir e até aprovar o impeachment do presidente da Câmara. "Existe uma dinâmica que vai conduzir fatalmente a este espaço em que a Câmara, para se sintonizar de novo com a opinião pública, terá de enfrentar a insatisfação crescente da sociedade com os graves erros que os dirigentes do País vêm cometendo", diz em entrevista ao Estado. Está na hora de falar em impeachment de Severino?

Colocar a questão do Severino no topo da agenda política neste momento seria dispersão. Mas foi ele quem se pôs assim. Ao lançar uma visão complacente da crise, ele precipitou esse processo que deve ficar para um segundo tempo, depois do ajuste de contas com os culpados de corrupção.

O que Severino Cavalcanti representa na presidência da Câmara?

Ele é o presidente do atraso e representa tudo o que há de pior, com seu modo superado de ver a política. Além de defender o nepotismo, ele representa o patrimonialismo e o corporativismo, com sua defesa do aumento de salário, dos benefícios das verbas de gabinete, em contradição com a aspiração da maioria dos brasileiros que quer uma Câmara austera.

Foi por isso que o senhor declarou no plenário da Câmara que o presidente Severino Cavalcanti não é digno de permanecer no cargo?

Primeiro, foi porque ele agiu como um lobista de uma empresa que já foi várias vezes processada por trabalho escravo. Se fosse um deputado qualquer, apenas lamentaria que viesse de Pernambuco, um século depois, para percorrer trajetória inversa a do deputado Joaquim Nabuco, que fez a campanha pela abolição da escravatura no Congresso. Como presidente da Câmara, ele envolveu o peso da instituição.

O senhor tem provas disso?

Não só tenho, como já disse isso e ele nunca me desmentiu. A revista Época publicou reportagem com essas denúncias.

É nisso que o senhor baseia seu pedido de impedimento de Severino?

Este comportamento é incompatível com a postura de presidente da Câmara. É falta grave, da mesma maneira que foi grave a defesa que ele fez da tese de que não existe mensalão, com o objetivo de salvar quase todos os deputados envolvidos em denúncias de corrupção. Minha representação é um ato isolado, e como tal sem conseqüências. Mas eu estou esperando que se acumulem fatos contra ele na Mesa Diretora, para que os partidos se dêem conta e encampem essa idéia.

O presidente da Câmara está envolvido com o mensalão?

Há duas teses quando se fala em Severino: a de que ele não compreende quase nada do que está se passando, e a de que ele está envolvido no esquema do mensalão. Eu sou adepto da primeira, de que ele não tem a compreensão da gravidade da crise nem está preparado para presidir a Casa.

Por que o senhor não pediu a seu partido, o PV, para que assinasse a representação contra Severino?

Nem o PV nem o Movimento Brasil Verdade, do qual participo na luta pela investigação das denúncias de corrupção, acham adequado o confronto com Severino neste momento. Insistir nesta tese seria provocar um conflito interno.