Título: Assessor blinda Palocci na CPI e rebate acusações sobre propina
Autor: Lisandra Paraguassú e Rosa Costa
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A8

Em depoimento à CPI dos Bingos, Juscelino Dourado, chefe de gabinete do ministro Antonio Palocci, rebateu todas as denúncias feitas pelo advogado Rogério Buratti, ex-assessor do ministro da Fazenda. Dourado negou veementemente que Palocci tenha recebido propina da empreiteira Leão Leão quando era prefeito de Ribeirão Preto, entre 2000 e 2002, ou que tenha tratado alguma vez dos contratos da Caixa Econômica Federal com a empresa Gtech. "Não acredito, conhecendo o ministro Palocci nesses 13 anos de convívio e muito trabalho, que uma situação como essa tenha acontecido", afirmou Dourado. "Não acredito, porque em nenhuma atividade, em nenhuma campanha, em nenhuma ação de governo, vi o ministro tratando de assuntos desse nível". Dourado, secretário da casa civil e diretor da companhia de desenvolvimento no segundo mandato de Palocci em Ribeirão Preto, disse que nunca ouviu falar em pagamento de propina na prefeitura.

Apesar da defender o ministro, Dourado adotou a mesma estratégia de Palocci e não atacou Buratti, de quem se diz amigo "muito próximo" (Buratti foi seu padrinho de casamento). Apesar da insistência dos senadores, recusou-se a dizer diretamente que o advogado havia mentido ao fazer as acusações que ele mesmo desmentiu. Preferiu dizer que "entendia a situação" dele quando fez a acusação - Buratti estava preso quando falou. Ante a insistência dos senadores, afirmou: "Com os filhos e os amigos a gente tende a ser mais complacente".

Seguro e sem cair em contradição, Dourado driblou com facilidade as perguntas dos senadores, muitas repetidas, mas deixou dúvidas nos integrantes da CPI. Ele disse, por exemplo, que Palocci nunca tratou do contrato da Gtech com a CEF.

"Não passou na nossa pauta de trabalho no ministério a discussão do contrato da Gtech. Obviamente o ministro tinha despachos ordinários com os presidentes das empresas subordinadas ao Ministério da Fazenda", disse, acrescentando que o ministro não costumava tratar dos contratos específicos das estatais. "Acho muito difícil que o ministro não discutisse um contrato que era o maior da Caixa com uma empresa privada", disse o senador José Jorge (PFL-PE).

Dourado contou que Ralf Barquete, assessor especial da CEF e ex-secretário de Fazenda de Palocci em Ribeirão Preto, chegou a pedir uma audiência com o ministro, mas não foi recebido. Barquete, morto em julho de 2004, foi apontado por Buratti como o homem que recebia e encaminhava ao PT a propina da Leão Leão. Buratti relatou que Barquete teria discutido a proposta com Palocci, o qual teria dito que não se meteria na negociação.

O assessor de Palocci deu explicações sobre o crescimento do seu patrimônio pessoal e sobre denúncias de que teria recebido dinheiro da Leão Leão por fora, em um acordo na campanha para a prefeitura de Ribeirão. Ele disse que seu patrimônio teve uma "evolução normal" e que fez um empréstimo em 15 anos para pagar a casa que está construindo.

Segundo as denúncias, a Leão Leão pagaria notas fiscais a mais para uma gráfica na cidade e o excedente seria repassado a Dourado. O assessor de Palocci afirmou que isso nunca existiu.