Título: Corretora mostra ligação de Valério com fundos
Autor: Eugênia Lopes e Luciana Nunes Leal
Fonte: O Estado de São Paulo, 01/09/2005, Nacional, p. A9

O depoimento prestado ontem por Enivaldo Quadrado, sócio da corretora Bônus Banval, à CPI dos Correios mostrou que o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza tinha uma ligação estreita com fundos de pensão de estatais e chegava a sugerir investimentos a serem feitos no mercado financeiro. Ao negar que tenha feito operações para qualquer fundo de pensão, ele afirmou: "Marcos Valério pediu que eu indicasse investimentos de boa qualidade para que ele mostrasse aos fundos de pensão." Na CPI, há uma forte suspeita de que fundos de pensão como Petros (da Petrobrás) e Funcef (da Caixa) abasteciam indiretamente o milionário caixa 2 já confessado por Marcos Valério. Por este artifício, os fundos fariam elevadas aplicações no Banco Rural e no BMG que, em troca, aceitaram fazer empréstimos somando R$ 55 milhões para empresas de Valério, a pedido do PT, mesmo sabendo que a dívida não seria honrada. A Bônus Banval foi uma das empresas usadas pelo empresário para repassar dinheiro a pessoas indicadas pelo ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares.

Quadrado admitiu a possibilidade de ter, entre seus clientes, empresas de investimento que, por sua vez, tenham fundos de pensão como clientes. Mas garantiu que não trabalhou diretamente para os fundos. "Só se os fundos fossem clientes da Bônus Banval, mas não tenho como saber."

Ele disse que foi apresentado a Valério, em fevereiro do ano passado, pelo deputado José Janene (PP-PR), acusado de ser um dos principais operadores do mensalão. Segundo Quadrado, uma filha de Janene, Michele, foi estagiária da Bônus Banval e o deputado costumava visitá-la no escritório quando ia a São Paulo. Ele afirmou que sua intenção, ao se aproximar de Valério, era vender a Bônus Banval para o empresário.

Quadrado disse que, em março do ano passado, atendeu a um pedido de Valério e mandou um funcionário seu buscar R$ 255 mil em dinheiro vivo na agência do Banco Rural da Avenida Paulista, em São Paulo. Houve outras três retiradas em espécie, somando R$ 605 mil. "Não havia saque de cheque. Era só chegar na agência do Rural, procurar o senhor Guanabara na tesouraria e já estava tudo separadinho. O dinheiro foi entregue integralmente ao Marcos Valério. Entreguei três vezes a ele e uma vez a uma pessoa que ele indicou, chamada Vivian."

"O senhor conheceu Marcos Valério em fevereiro e em março já estava sacando dinheiro em espécie no Banco Rural e levando para ele?", desconfiou a senadora Ideli Salvatti (PT-SC). "De fato, olhando hoje é uma operação anormal", reconheceu ele, que também não convenceu os parlamentares ao dizer que jamais perguntou os motivos das retiradas. "Não questionei. Na época, estava interessado em vender a corretora para ele."

Ele negou ter feito remessas de dinheiro para o exterior a pedido do deputado e ex-ministro José Dirceu, como denunciou o doleiro Antônio Oliveira Claramunt, o Toninho da Barcelona. "Nunca estive com o deputado José Dirceu. Só posso supor que ele (Toninho) está tentando desviar o foco desta CPI."